Mesmo com barganha bilionária para ser salvo na Câmara, Temer perde
poder
Total de
parlamentares que apoiaram Temer na votação de quarta é menor que mínimo
necessário para aprovar reformas. Concessões para agradar base passa de 12
bilhões
O presidente
Michel
Temer foi
salvo na Câmara na última quarta-feira após
uma barganha bilionária para manter-se no cargo. Só para virar a seu favor os
votos de oito deputados federais que ajudaram a blindá-lo, o Planalto
desembolsou 59,2 milhões de reais apenas em emendas parlamentares. Esses oito
deputados haviam votado contra o presidente na votação da primeira denúncia
contra ele, que o acusava de corrupção passiva. Sem essa negociação de última
hora, Temer corria o risco de ver uma vitória muito mais apertada.
Ele acabou obtendo 251 votos de apoio, e 233
contrários. Nesta segunda denúncia votada na Câmara, a Procuradoria
Geral da República acusava Temer de chefiar uma organização criminosa e
tentativa de obstrução da Justiça.
Mas a conta para manter-se no
poder é bem mais salgada que o gasto com as emendas parlamentares. Estimativas
do jornal O Globo publicadas no início desta semana, mostram que ele
chega a 12 bilhões de reais. Só em emendas, foram 881 milhões de reais pagos
desde o início de setembro. Além disso, o presidente abdicou de receber 2,8
bilhões de reais em multas ambientais, uma demanda da bancada ruralista no
Congresso. Abriu mão, ainda, de 2,4 bilhões de reais com o programa de
refinanciamento de dívidas (Refis) que favorece o setor privado; e desistiu de
privatizar o aeroporto de Congonhas, que renderia cerca de 6 bilhões de reais,
a pedido da bancada do PR.
Mesmo com todo esse elenco de
concessões,
a base de Temer na Câmara dos Deputados diminuiu
em 12 votos, quando se compara a primeira e a segunda votação das denúncias
contra o peemedebista. Esse emagrecimento de aliados mostra que apesar da
barganha bilionária para manter-se, o presidente coloca em risco a votação de
projetos de interesse da gestão federal, como a reforma da Previdência, além de
comprometer a arrecadação e o orçamento de 2018. Para aprovar projetos dessa
monta, são necessários 308 votos, porque eles são propostas de emendas
constitucional e exigem quórum de três quintos dos parlamentares. Na última
votação, Temer obteve 251 votos de apoio – menos da metade dos 513 deputados.
Não se trata de um simples
cálculo matemático. A leitura de que o presidente perde substância na Câmara
foi feita pelo próprio Rodrigo Maia, presidente da Casa,
em entrevista ao jornal
Folha de S. Paulo, publicada nesta sexta. “O Governo não tem votos
para aprovar matérias importantes”, diz Maia, que há meses vem demonstrando
publicamente diferenças e distância com o presidente. “Da forma como a base
está colocada, o Governo vai ter dificuldades em matérias polêmicas”,
completou.
Para a oposição, o resultado
dessa quarta-feira foi visto como uma meia vitória. “Estamos como o Atlético
Goianiense, quando apanha de um a zero já está bom”, afirmou o deputado Chico
Alencar (PSOL-RJ) em referência ao último colocado da série A do campeonato
brasileiro. Enquanto que a situação diz que é o momento de “virar a página”.
“Vamos encerrar esse triste capítulo da política brasileira, que começou em
maio, em um conluio entre corporações públicas egoístas que se uniram a
empresários inescrupulosos. O governo sai revigorado e com uma pauta forte”,
afirmou o vice-líder do Governo, Darcísio Perondi (PMDB-RS).
Maia reconhece que a Câmara
sofre um desgaste ao defender Temer, quando ele encarna a mais baixa
popularidade da história. Mesmo assim, parlamentares correm o risco diante da
opinião pública, alegando, publicamente, que mantê-lo é melhor para a
estabilidade do país. A conta com o eleitor, contudo, só será paga em 2018 para
quem tentar se reeleger. Os deputados que na primeira votação foram contrários
a Temer e agora o beneficiaram foram César Halum (PRB-TO), Ronaldo Martins
(PRB-CE) e Carlos Gomes (PRB-RS). Estes trocaram o voto a favor da investigação
pelo voto da blindagem. Outros, que haviam sido contrários a ele no primeiro
pleito, decidiram se ausentar do plenário no momento da análise (um comportamento
incentivado pelo presidente, como afirmou Maia na Folha desta sexta): Marcos
Soares (DEM-RJ), Hissa Abrahão (PDT-AM), Laercio Oliveira (SD-SE), Luana Costa
(PSB-MA), Mara Gabrilli (PSDB-SP) e Edmilson Rodrigues (PSOL-PA).
No caso do opositor Edmilson
Rodrigues, sua ausência ocorreu por conta de desatenção. Pouco antes de ser
chamado para votar, ele foi ao banheiro, e no meio do caminho iniciou uma
entrevista com uma repórter da TV Câmara. Chamado duas vezes ao microfone para
proferir o seu voto, ele não ouviu e, quando chegou para votar, seu
posicionamento não foi computado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ). “Fiz um requerimento para que meu voto fosse alterado, ao menos para
ficar registrado como eu me posicionaria nessa questão, que é a favor da
investigação”. Por conta dessa questão burocrática, a reportagem não calculou
os valores destinados às emendas apresentada por Rodrigues.
Outra mão
No sentido inverso, ou seja, dos
que antes votaram para proteger Temer e agora decidiram por autorizar as
investigações, houve oito mudanças de votos. A maioria delas ocorreu em um
claro movimento visando a disputa eleitoral de 2018. Um exemplo disso foi a
postura do deputado Delegado Éder Mauro (PSD-PA), que antes era da base de
Temer e, agora, fez um acordo para apoiar o político de extrema direita, Jair
Bolsonaro (PSC-RJ) na disputa presidencial do ano que vem.
Em agosto, quando o presidente
era acusado de corrupção passiva, Éder Mauro disse que apoiaria a blindagem de
Temer “em nome da estabilidade do país”. Em pouco mais de 15 segundos, usou 43
palavras para atacar os partidos de esquerda e dizer que havia uma tentativa de
“ressuscitar bandidos falecidos politicamente, que destruíram e roubaram esse
país, inclusive com a destruição da família”. Na quarta-feira passada, quando a
denúncia pelos crimes de formação de organização criminosa e obstrução à
Justiça foram analisadas pelos parlamentares, ele levou menos de dois segundos
para declarar seu voto com apenas três palavras: “Não, senhor presidente”. Ao
votar não, o parlamentar discordava do relatório de Bonifácio de Andrada
(PSDB-MG) que pedia a rejeição da denúncia da Procuradoria Geral da República
contra Temer.
Além de Éder Mauro, os outros
parlamentares que viraram a casaca e passaram de apoiadores a opositores foram
Heuler Cruvinel (PSD-GO), Jaime Martins (PSD-MG), João Paulo Kleinubing
(PSD-SC), Abel Mesquita Jr. (DEM-RR), Mauro Mariani (PMDB-SC), João Campos
(PRB-GO) e Cícero Almeida (PODEMOS-AL).