Empresa de Picciani fez até ‘terceirização’ de lavagem de dinheiro, diz MP
Na manifestação ao Tribunal Regional Federal da 2.ª Região (TRF2),
que originou a Operação Cadeia Velha, desdobramento da Lava Jato, o
Ministério Público Federal afirma que o ‘principal propósito’ da empresa
Agrobilara, controlada pelo presidente da Assembleia Legislativa do Rio
(Alerj), Jorge Picciani (PMDB) e sua família, é a lavagem de dinheiro. A
Agrobilara tem sede em Uberaba (MG), cidade onde a Polícia Federal
prendeu Felipe Picciani, filho de Jorge, na manhã desta terça-feira, 14.
O presidente da Assembleia fluminense foi levado para depor.
A Procuradoria cita, no documento, o ex-governador do Rio Sérgio
Cabral (PMDB) e a empreiteira Carioca Engenharia. Em delação, uma
executiva da empresa disse que ‘comprou vacas superfaturadas’ da
Agrobilara.
“Os negócios no ramo de gado de Jorge Picciani servem para lavagem do
produto de crimes antecedentes de corrupção praticados por ele, mas
também, em demonstração de grande sofisticação, praticados por terceiros
(Carioca Engenharia), para pagamento de propina em espécie a Cabral e
para lavagem do produto do crime de corrupção de outros funcionários
públicos”, afirma o Ministério Público Federal.
Controlam a Agrobilara os peemedebistas Leonardo Picciani, ministro
dos Esportes (Governo Michel Temer), Jorge Picciani, presidente da
Assembleia Legislativa do Rio, e Rafael Picciani, deputado estadual.
“Sem dúvida o deputado Jorge Picciani conta com a colaboração
indispensável de seu filho Felipe Picciani, que no site do Grupo Monte
Verde (Agrobilara) é apresentado como zootecnista que se dedica
integralmente à Monte Verde. Aliás, a dedicação à Agrobilara, além da
submissão às diretrizes de seu pai na condução dos negócios fica patente
nos e-mails trocados entre eles, o que significa dizer que Felipe age
em consonância com o principal propósito da empresa, ou seja, lavagem de
ativos dos crimes praticados por seu pai e por outras pessoas da esfera
de conhecimento do seu pai (empresários e funcionários públicos)”, diz a
Procuradoria.
Jorge e Felipe Picciani foram citados também na delação premiada do
ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro Jonas
Lopes de Carvalho Júnior. O delator relatou que ajustou com Picciani pai
‘o subfaturamento da operação de compra do gado’.
“Procurou, então, Felipe Picciani para lhe auxiliar; que chegou a ir a
Fazenda de uma agropecuária da família Picciani em Uberaba/MG
(Agrobilara), por meio de avião particular, jato, que saiu do aeroporto
Santos Dummont”, narrou. “Nessa oportunidade, estava acompanhado do
deputado estadual Jorge Picciani e seu filho Felipe Picciani, ambos
sócios da referida agropecuária.”
Segundo o delator, na ocasião, ele ‘comprou 100 novilhas Girolando,
ao custo de R$ 600 mil’. Jonas Lopes Júnior declarou ter ajustado com
pai e filho ‘a emissão de notas fiscais referentes ao gado em valores
inferiores da quantia real do preço ajustado’.
“O valor correspondente às notas fiscais foi quitado mediante
pagamento em 24 parcelas de R$ 50 mil cada; que Felipe comparecia ao
Gabinete da Presidência do TCE/RJ para recolher o dinheiro ou na
residência do colaborador (Jonas Lopes Júnior); que os recursos
utilizados no pagamento em espécie do gado eram provenientes dos ativos
auferidos ilicitamente em razão do cargo de Conselheiro do TCE/RJ”,
relatou.