STF abre caminho para limitar foro privilegiado de deputados e senadores
Maioria apoia restringir julgamento na corte a crimes feitos durante e em razão do mandato
Ministro Alexandre de Moraes propõe restrição menor do que Barroso, mas Dias Toffoli pede vista
Oito dos onze ministros do Supremo Tribunal Federal
(STF) votaram nesta quinta-feira para restringir o alcance do foro
privilegiado, a prerrogativa de deputados e senadores de só serem
julgados pela mais alta corte do país. Seis ministros (Celso de Mello,
Marco Aurélio, Rosa Weber, Edson Fachin, Luiz Fux e Carmen Lucia)
seguiram a proposta do relator, o ministro Luís Roberto Barroso,
de limitar o foro no STF para aqueles crimes ocorridos durante o
exercício do mandato parlamentar e em razão do cargo, como, por exemplo,
recebimento de propina. Alexandre de Moraes propôs uma restrição, mas
menos dura. O ministro Antonio Dias Toffoli, no entanto, decidiu pedir
vistas, ou seja, mais tempo para avaliar o caso, e a conclusão do
julgamento, ainda que já haja maioria no tribunal, foi adiada.
A regra do foro beneficia um total de 54.990 pessoas, segundo um levantamento feito pela Consultoria Legislativa do Senado.
Abrange autoridades do Poder Judiciário, do Ministério Público,
comandantes das Forças Armadas, chefes de missão diplomática permanente,
entre outros. A proposta do ministro Barroso incide apenas em
parlamentares federais. Ainda assim, com esta mudança 90% dos processos e
investigações criminais que estão em andamento iriam para outras
instâncias, segundo um levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas
(FGV).
ENQUANTO ISSO
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As discussões sobre restrição do foro por prerrogativa de cargo,
conhecido como foro privilegiado, ganharam força nesta semana em duas
frentes distintas - e em certa medida opostas. Tanto o Supremo Tribunal Federal
quanto o Congresso estudam mudanças no dispositivo, que foi introduzido
pela Constituição de 1988. Na legislação atual, ministros de Estado,
parlamentares e chefes do Executivo (entre outros) são julgados por
cortes superiores, e não na Justiça de primeiro grau. Enquanto os
parlamentares tentam aprovar um texto que lhes garanta salvaguardas em
caso de processo - uma questão de autopreservação em tempos de Operação Lava Jato
-, o STF estuda acabar com o que alguns ministros da Corte chamaram de
um elemento "aristocrático" que abre as portas para a impunidade.