PCC não chora a morte de dois de
seus líderes no Ceará
Não houve luto no banho de sol em
Presidente Venceslau para Gegê do Mangue e Paca
Ministério Público cogita desvio
de dinheiro para a execução dos dois
Sempre que morre um integrante do PCC (Primeiro Comando da Capital), os presos batizados
na facção criminosa se reúnem nos pátios das penitenciárias, logo pela manhã,
na saída do banho de sol, para fazer uma oração.
Os prisioneiros fazem uma roda no centro da quadra, abaixam a cabeça em sinal
de respeito ao morto, rezam o Pai Nosso e depois entoam o tradicional grito de
guerra da organização criminosa: “PCC, 1533, PCC, 1533. Um por todos e todos
por um. Um por todos e todos por um.”
A
milhar 1533 corresponde aos números das letras da sigla da facção criminosa no
alfabeto. O 15 é o P. O 3 é o C. Logo, PCC é igual a 1533.
Na
Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, a 620 Km da capital paulista, onde
está trancafiada a liderança do PCC, o clima nesta segunda (19 de fevereiro) e
terça-feira (20 de fevereiro) não era de tristeza.
Segundo
o Ministério Público, não houve cantorias e ninguém orou
pela intenção das almas de Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e
Fabiano Alves de Souza, o Paca.
Os
dois homens da cúpula da organização foram encontrados mortos a tiros na última
sexta-feira em um assentamento indígena em Aquiraz, região metropolitana de Fortaleza (CE).
O
ambiente de tranquilidade na P2 de Presidente Venceslau e a indiferença dos
presos em relação às mortes de Gegê e de Paca sinalizam que ambos foram mortos
a mando da própria facção.
O
Ministério Público Estadual trabalha com duas linhas de investigação. Uma delas
é a de que Gegê do Mangue foi executado porque teria mandado matar, sem ordem
da liderança do grupo, o preso Edílson Borges Nogueira, o Birosca.
Birosca
foi assassinado no dia 5 de dezembro do ano passado, durante o banho de sol na
P2 de Presidente Venceslau.
A
segunda linha de investigação do Ministério Público é a de que Gegê e Paca
foram mortos porque estariam desviando dinheiro do PCC.
Promotores
de Justiça apuraram que dinheiro realmente não era problema para os dois. Gegê
do Mangue estava foragido desde fevereiro do ano passado. Paca também era
procurado.
Poucos
dias depois de ser solto, Gegê seria levado a júri popular por dois homicídios
ocorridos em São Paulo em 2003. Ele não apareceu ao julgamento
e foi condenado à revelia a 47 anos.
Gegê
e Paca estavam em Fortaleza, no Ceará, com suas respectivas mulheres, filhos e
outros parentes. O Ministério Público Estadual apurou que ambos levavam uma
vida digna de milionário na capital cearense.
Paca,
por exemplo, morava em uma mansão num condomínio de luxo, avaliada em R$ 2
milhões. Há suspeitas de que ele teria comprado o imóvel usando documentação
falsa.
Gegê
também morava numa casa de luxo. Nos imóveis onde as famílias de ambos viviam
foram apreendidos quatro veículos avaliados em R$ 2 milhões.
A
Polícia encontrou nos imóveis duas BMW modelo X6 — cada uma custa em torno
de R$ 500 mil, e duas Land Rover, também no valor de R$ 600 mil cada.
Ainda
segundo promotores de Justiça, Gegê e Paca ostentavam ainda com relógios e
colares de ouro.
As
mansões de Fortaleza eram usadas para as famílias passarem temporadas de verão
e férias escolares.
No
último dia 15, as famílias dos dois foragidos fretaram um ônibus e retornaram
para São Paulo.
Gegê
e Paca se despediram dos parentes. Eles tinham uma missão: iriam voltar para a
Bolívia para retomarem os negócios do tráfico de drogas para o PCC.
Eles
embarcaram em um helicóptero, o mesmo que os trouxe da Bolívia para a capital
cearense.
Na
aeronave também estavam o piloto e um quarto homem, até agora não identificado
pela Polícia. A poucos minutos do início do voo, Gegê e Paca mandaram pelo
telefone celular fotos do mar do Ceará e mensagens para suas mulheres.
De
acordo com o Ministério Público, durante o trajeto o piloto simulou uma pane no
helicóptero. A aeronave fez um pouso no assentamento indígena.
Todos
desceram do helicóptero. O quarto homem sacou uma pistola e matou Gegê e Paca
com tiros no rosto e na cabeça.
Os
corpos deles foram arrastados alguns metros pela mata. Os assassinos atearam
fogo nos cadáveres. Como chovia forte na região, a água apagou as chamas.
As
Polícias Civil e Federal já têm o prefixo do helicóptero usado na ação. Há
indícios de que a aeronave foi fretada na Bolívia.
Os
agentes também têm suspeitas de quem seria o piloto. O que os policiais já
sabem é que Gegê e Paca realmente foram mortos por pessoas muito próximas a
eles, ou seja, a mando da própria facção criminosa.
Os
corpos de Gegê e de Paca foram velados nesta terça-feira no Cemitério do Araçá,
na Consolação, centro de São Paulo. O enterro foi no cemitério Redenção, na
mesma região.
O
traslado dos corpos foi feito de avião para São Paulo e, segundo fontes ligadas
às famílias dos mortos, custou R$ 120 mi