“Senhor presidente, senhoras e senhores deputados,
Eu subo nessa tribuna pela primeira vez e pela última
vez. Não por morte, porque estou abandonando a vida pública. Já dei meu
depoimento em uma entrevista e eu quero falar um pouco do que vi aqui e
pedir um pouco para os colegas de trabalho: vamos olhar um pouco para o
nosso país. Vamos esquecer um pouco as brigas, vamos esquecer um pouco o
ego e vamos olhar para o nosso povo. O povo que eu falo é aquele povo
que necessita de saúde. Eu tenho certeza que nenhum de vocês passou por
isso.
A gente sabe que todos nós ganhamos bem para trabalhar.
Nem todos trabalham. São 513 deputados. Só oito mais assíduos. Eu sou um
dos oito. Um palhaço de circo de profissão. Nunca brinquei aqui dentro.
Votei de acordo com o povo em todas as minhas votações se vocês fizerem
um levantamento e ver como eu votei.
Eu tô saindo triste para caramba, tô muito chateado,
muito chateado mesmo com a nossa política, com o nosso parlamento. Eu
como artista popular que sou e político que estou, estou saindo
chateado. Não com os meus sete anos aqui na política. Não fiz muita
coisa, mas pelo menos fiz o que sou pago para fazer. Estar aqui, votar
de acordo com o povo. Minhas emendas eu tento… Eu fui votado em São
Paulo todo. Eu tento não repetir cidades. Eu não tenho base. Então eu
mando as emendas de acordo não com votação. Cidade em que eu tive dez
votos eu mando emenda pra lá. Meu trabalho eu fiz bem feito, eu saio de
cabeça erguida.
Agora eu peço para os colegas. Cara, vocês não sabem o
que é… Muitos de vocês não sabem o que é passar fome. Muitos de vocês
não sabem o que é precisar de um hospital público. Você vê: eu sou um
artista popular, estou político e minha mãe não tem plano de saúde.
Minha mãe não tem plano de saúde. Segunda-feira eu saí às pressas do
show. Domingo eu fui para o Ceará, tive que internar ela. Está no
hospital público e graças a Deus está sendo bem tratada pelos doutores
lá. Mas é muito triste, assim, você precisar, sabe… Seu filho adoecer e
você precisar de um hospital público… A saúde…
Se vocês andarem como eu ando pelo país, que eu ando
fazendo shows, se vocês verem como é que é o pai de família, o filho
pedir comida para o seu pai e o seu pai não ter condições, porque não
tem trabalho, não tem de onde tirar, vai fazer o quê? É triste e o que
eu vi nesses sete anos aqui eu saio totalmente com vergonha. Não vou
generalizar, não são todos. Tem gente boa aqui dentro, como em qualquer
outra profissão, mas eu gostaria que vocês… Só um pedido de gente, de
povo. Vamos olhar mais pelo nosso país. Vamos olhar mais pela nossa
saúde. Vamos olhar mais pelo nosso povo.
Quero deixar aqui um abraço à galera toda da limpeza,
aos seguranças da Casa, a alguns colegas que eu fiz aqui, galera da
Mesa, maior respeito que tem por mim todos eles, do faixineiro até o
diretor-geral, muito obrigado por tudo e eu jamais vou falar mal de
vocês em qualquer canto que eu chegar e não vou falar tudo o que eu vi,
tudo o que eu vivi aqui. Mas eu seria hipócrita se eu saísse daqui e não
falasse realmente que eu tô decepcionado. Decepcionado com a política
brasileira. Decepcionado com muitos de vocês. Muitos. Muitos.
Deixo o meu abraço. Aprendi muito. Muitas coisas boas
com alguns veteranos aí. Sofri preconceito. Ontem mesmo, ao chegar, um
colega… Colega não. A gente discutiu ali e tudo. Eu pensei até que ele
ia me agredir. Depois fui levantar a ficha dele o cara é mais sujo do
que pau de galinheiro. Tem mais de cinco processos aí por desvio de
dinheiro público e vem falar o quê? Por eu ser um cara humilde, um cara
do povo, por eu respeitar todo mundo, por eu conversar com todo mundo,
sabe?
Eu tô saindo muito chateado mesmo e muito… É vergonhoso.
Eu ando de cabeça erguida, porque eu não fiz nada de errado. Eu ando
nos aeroportos de cabeça erguida. Mas eu acho que muitos dos senhores
não têm essa coragem. Anda até disfarçado. De dizer que é parlamentar,
porque é uma vergonha. Tá vergonhoso.
Eu não tô generalizando não. Tem gente boa, mas não dá
para fazer muita coisa, porque a mecânica daqui é louca. Eu costumo
dizer que o parlamentar trabalha muito e produz pouco. Agora… Não
admito. A gente é bem pago. A gente tira livre R$ 23 mil se eu não me
engano. Livre pra gente. A gente tem apartamento, direito a carro. Eu
uso o meu carro. Eu não preciso do carro da Câmara. Mas a gente tem toda
essa mordomia. Sem falar na carteirada que muitos de vocês dão. E eu
ando de cabeça erguida, mas eu tenho certeza que eu já vi deputado se
escondendo, porque para o povo realmente isso aqui é uma vergonha e eu
saio decepcionado.
Desculpe a todos vocês. O cara falou: ‘você nunca subiu
para dar um discurso’. Eu falei: ‘cara, eu sou ator. Se eu quisesesse
subir ali para mentir…’. Ó, eu sem falar — é a primeira vez e a última
vez que eu tô falando —, eu sem falar todas as duas minhas votaçõe foram
mais de um milhão de votos. Sem falar. Brincando e falando a verdade.
Falando a verdade na brincadeira e é vergonhoso. Eu… Muitos dos
senhores… Não sei, mas é vergonhoso. É uma vergonha muito grande.
Eu tô saindo decepcionado mesmo, mas de cabeça erguida,
porque não fiz nada, mas o pouco que eu fiz eu fiz muito. É minha
obrigação e eu tô cumprindo. Obrigado a todos vocês. Obrigado pela
atenção de todos e vamos olhar pelo nosso povo e pelo nosso país.
Obrigado.”