Para Dodge, é 'fato incontroverso' que Aloysio Nunes recebeu R$ 500 mil não declarados da Odebrecht
Ministro das Relações Exteriores disse que não houve corrupção e afirmou que a prestação de contas de sua campanha em 2010 foi aprovada pela Justiça Eleitoral.
Em relatório de investigação enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF),
Dodge disse, no entanto, que ainda falta apurar a origem dos recursos e
a finalidade do repasse, o que é fundamental para saber se houve
corrupção no episódio ou somente caixa 2.
Aloysio Nunes é investigado desde março por supostamente ter recebido
propina para interceder a favor da Odebrecht em contratações da Dersa,
estatal paulista responsável por obras rodoviárias no estado. O relator
do caso no STF é o ministro Gilmar Mendes.
O ministro nega a suspeita e diz que as doações que recebeu em 2010 não
tiveram como contrapartida qualquer ato formal ou favor prestado à
construtora. Em nota, ele disse que Dodge "erra gravemente" em seu
parecer, acrescentando que os delatores da Odebrecht "não foram capazes
de esclarecer quem pagou, nem onde, nem muito menos quem recebeu os
recursos"
Ele diz que a investigação é “bem-vinda” para afastar qualquer dúvida
em relação à “correção” da prestação de contas da campanha, aprovada
pela Justiça Eleitoral (leia mais abaixo a nota divulgada pela
assessoria do ministro).
No parecer enviado ao STF, Raquel Dodge pede a continuidade das
investigações com novo depoimento de Aloysio e de Carlos Armando
Paschoal, executivo da Odebrecht que delatou o ministro em acordo de colaboração premiada.
Na delação, Paschoal disse que foi o próprio Aloysio quem lhe pediu
doações em 2010 para campanha. Na Odebrecht, o executivo conseguiu obter
R$ 500 mil, que teriam sido repassados em duas parcelas de R$ 250 mil
num hotel da zona sul de São Paulo indicados por um “representante” do
ministro.
Dodge também quer descobrir quem foi o intermediário de Aloysio no
recebimento do dinheiro. A Polícia Federal deverá ouvir ainda Rubens
Rizek, coordenador financeiro da campanha, para esclarecer a origem dos
recursos e circunstâncias do repasse.
Inquérito
No mesmo inquérito de Aloysio, também é investigado o senador José
Serra (PSDB-SP) por suposto recebimento de propina na construção do
Rodoanel Sul em São Paulo, na época em que era governador, entre 2007 e
2010.
Decreto assinado por Serra teria beneficiado, segundo as investigações,
o consórcio formado por Odebrecht, Queiroz Galvão e Camargo Corrêa.
Na contratação, o então diretor de Engenharia da Dersa Paulo Vieira de
Souza, teria pedido às empreiteiras 0,75% de cada pagamento às
empreiteiras para campanhas do PSDB, em especial de Serra. O senador
também nega as suspeitas.
No parecer enviado ao STF, Raquel Dodge também diz que, tanto em
relação a Serra quanto a Aloysio, não haverá mais possibilidade de punir
qualquer crime supostamente cometido antes de 2010.
Isso ocorre por causa da prescrição, quando a demora até o oferecimento
de denúncia impede o Estado de processar os investigados. No caso dos
dois tucanos, esse prazo caiu à metade porque ambos têm mais de 70 anos.