“Estou cansado, mas vou até o fim”
O juiz
federal de Curitiba admite estar exausto pelo trabalho na Lava Jato, mas
decidiu não abandonar a operação que mudou o paradigma da corrupção sistêmica
no Brasil
“Possivelmente, a Operação Lava
Jato em Curitiba está chegando ao fim”. A frase dita pelo juiz Sergio Moro em
meio a um discurso de agradecimento pela homenagem que acabara de receber da
Universidade americana de Notre Dame, na segunda-feira 2, suscitou apreensão no
meio jurídico e entre as entidades que defendem o combate à corrupção no
Brasil. A Operação Lava Jato vai acabar? O juiz Sergio Moro, esteio da maior
ação de enfrentamento ao crime organizado na política brasileira, vai desistir
do trabalho? À ISTOÉ, no entanto, Moro garantiu que não abandonará a operação.
“Estou cansado, mas isso não significa que vou deixar a Lava Jato. Vou até o
fim”, disse ele, horas depois de receber o prêmio designado pela Notre Dame
como “alguém comprometido com a preservação da integridade de sua nação,
através da aplicação imparcial da lei”.
Quanto à declaração de que a
Lava Jato estaria chegando à sua fase final em Curitiba, Moro explicou: “Vários
casos já foram julgados e vários criminosos poderosos estão cumprindo pena após
terem sido condenados em um julgamento público e com o devido processo legal.
Ainda há investigações e casos relevantes em andamento em Curitiba, mas uma
grande parte do trabalho já foi feita”. Em quatro anos de operação, o juiz
comandou 67 processos, dos quais 34 já com sentença, com a condenação de 165
pessoas a 1.634 de prisão. “Mas, atualmente, outros juízes estão desempenhando
um papel importante e realizando um trabalho fantástico em outras jurisdições,
por exemplo em Campo Grande, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Brasília”,
completou Moro, dando a entender que a Lava Jato não precisaria,
necessariamente, se concentrar nele.
Quando diz estar “cansado”, ele
não se refere apenas ao árduo trabalho à frente de dezenas de ações penais ao
mesmo tempo, tendo que ouvir centenas de acusados e milhares de testemunhas em
pequeno espaço de tempo. Ele se reporta também à sua vida pessoal. Aos 45 anos,
casado com a advogada Rosangela Moro e dois filhos adolescentes, Moro quase não
tem tempo para a família. Por ser muito visado depois de dar sentenças
condenando os mais ricos empreiteiros do País e os mais destacados políticos
brasileiros, como o ex-presidente Lula, Moro sente-se privado de sua liberdade.
Vive com seguranças da PF por onde anda, inclusive quando vai a um simples
estádio assistir a uma partida de futebol, coisa que gosta, mas que está cada
vez mais raro também por causa do assédio dos inúmeros fãs em Curitiba. Não
pode ir a um shopping ou cinema sem disfarce (boné, principalmente). Quando vai
a um restaurante no final de semana, é aplaudido pelas pessoas, que não lhe
deixam em paz, pedindo autógrafos. O mesmo acontece nos voos que toma para
freqüentes palestras pelo Brasil e também no exterior. Fora isso, trabalha mais
de 12 horas por dia, e muitas vezes no fim de semana. Daí a exaustão.
Julgamento de Lula
Chegou a desabafar com amigos
que poderia largar a Lava Jato depois da próxima sentença contra Lula, prevista
para o mês que vem, mas isso não vai acontecer. Nesse caso, o ex-presidente
deve ser condenado por ter recebido, em nome do Instituto Lula, um terreno da
Odebrecht no valor de R$ 12,4 milhões e também uma cobertura em São Bernardo do
Campo avaliada em R$ 504 mil. O recebimento dessa cobertura foi acobertado como
se o imóvel estivesse alugado pelo ex-presidente junto a Glaucos Costamarques,
primo de José Carlos Bumlai, o amigão de Lula. Era propina paga pela Odebrecht.
Para simular o aluguel, Lula e seus advogados fraudaram recibos. Lula pode ser
condenado a penas de até 22 anos de cadeia nesse processo. O ex-presidente já
foi condenado por Moro no caso do tríplex do Guarujá a nove anos e seis meses
de prisão. Fora o episódio das propinas que Lula recebeu da Odebrecht, Sergio
Moro ainda vai julgar o ex-presidente no caso do sítio de Atibaia, onde ele é
acusado de ganhar um sítio, reformado pelas empreiteiras Odebrecht e OAS.
Melhor para o País que o juiz permaneça firme e forte.(Fonte: ISTO É)