RIO — Um auditoria fiscal
federal agropecuária nos documentos entregues pelas JBS na delação premiada
detalharam como se dava o esquema de pagamento de propinas a políticos do Mato
Grosso do Sul usando a compra e o abate de bovinos. Os fiscais chegaram à
conclusão que o gado era vendido e pago, mas nunca entregue ao comprador.
O Jornal Nacional, da TV Globo,
teve acesso às notas fiscais e as guias de trânsito animal que mostram a fraude
que era operada por políticos e pelos donos da JBS, os irmãos Wesley e Joesley
Batista.
— No caso das guias de trânsito
em que houve a consulta aqui ao Ministério da Agricultura, através da
superintendência, nós não verificamos a existência do abate daqueles lotes
correspondentes. Então, não tem registro de entrada daqueles bovinos no
frigorífico — detalhou Celso de Souza Martins, superintendente federal de
agricultura em Mato Grosso do Sul.
Só nos últimos 10 anos, a
J&F, holding que controla todas as empresas do grupo JBS, teria pago R$ 150
milhões em propina em troca de descontos de R$ 500 milhões no ICMS só no MS.
Wesley Batista entregou ao MPF
uma lista com 56 notas fiscais do frigorífico Buriti, pelo fornecimento de
carne, e 23 notas de compra de gado vivo de 12 pecuaristas. O Ministério da Agricultura
informou que "não foram encontrados registrados de ocorrência dos
abates" dos animais em nenhuma dessas transações.
Wesley disse que o Buriti foi
usado pelo governador, Reinaldo Azambuja (PSDB), para lavar dinheiro de
propina. Um dos executivos do grupo, Valdir Boni, era o responsável por buscar
as notas fiscais e fazer os pagamentos.
— O próprio governador tratava
comigo, ele próprio. O Boni ia lá no Palácio do Governo, em Campo Grande. Essas
notas o Boni pegou em mãos com o governador, essas notas fiscais e processou o
pagamento — disse Wesley. Outros auxiliares do governador também estão
envolvido no esquema da emissão de notas frias, segundo os delatores: Zelito
Alves Ribeiro e Nelson Cintra, coordenadores políticos do governo, e o
secretário de fazenda do estado, Márcio Monteiro.
Em nota, o governador Reinaldo
Azambuja declarou que nunca recebeu qualquer vantagem indevida de Joesley e
Wesley Batista. Disse ainda que “as quantias relativas à doação eleitoral,
através do diretório nacional do PSDB, constam na prestação de contas da
campanha de 2014, e que foram aprovadas pela Justiça Eleitoral”. Com relação às
notas fiscais frias, o governador disse que “este fato não tem qualquer relação
com o nome ou as atividades dele”.
Zelito Alves Ribeiro, Nelson
Cintra e Márcio Monteiro disseram que venderam gado à JBS e que, segundo eles,
pode ser comprovado nas notas fiscais. O PSDB declarou que as doações da JBS
estão nas prestações de contas declaradas à Justiça Eleitoral.