Futura procuradora-geral da República, Raquel Dodge teve que superar inúmeras barreiras para chegar ao dia em que se sentou diante da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.
Antes da sabatina, havia uma especial tensão porque vários dos seus inquiridores se sentem ameaçados pelo Ministério Público Federal.
Com habilidade, ela respondeu a todas as perguntas, mas com o cuidado de não se comprometer com aquilo que alguns dos seus interlocutores na CCJ gostariam: apontar alguma mudança na atuação do Ministério Público e na Operação Lava Jato.

Em mais de sete horas de sabatina, Dodge se alimentou uma vez, numa pausa no início da tarde. O Senado providenciou um lanche levado à Comissão com salgados, biscoitos, sanduíches pequenos, chá-mate e suco.
Raquel Dodge é a primeira mulher a chegar ao posto de Procuradora Geral da República. Há muito tempo ela consta na lista daquelas que poderiam chegar ao cargo.

Com votação expressiva no parlamento, Raquel se emocionou ao ver o placar final. Concretizou o que era uma possibilidade e isso tem a importância na quebra da hegemonia masculina.

Só homens a antecedem, mas no futuro ter homem ou mulher no comando do Ministério Público será algo natural. E a lista de procuradoras que tem atuado de forma combatente no MPF é grande.
Dodge chega com a bagagem de já ter atuado em diversas áreas, inclusive no combate à corrupção: caso da Operação Caixa de Pandora, que apurou a distribuição de recursos ilegais à base aliada do governo do Distrito Federal e resultou na prisão do ex-governador José Roberto Arruda, o primeiro no exercício do mandato.
Na ocasião, Raquel foi a responsável por produzir a denúncia contra todos os acusados do vasto esquema.
Em outra atuação importante, Dodge fez parte da força-tarefa que investigou o esquadrão da morte comandando pelo ex-coronel da PM e ex-deputado federal Hildebrando Pascoal.

O caso aconteceu na década de 90, no Acre, e ficou conhecido como crime da motosserra. Dodge foi a única mulher a participar da força-tarefa e atuou voluntariamente para ajudar nas investigações.
Como coordenadora da 2ª Câmara de Coordenação e Revisão, liderou a criação dos grupos de transição no MPF que tratam de crimes contra os direitos humanos cometidos durante a ditadura militar (1964 a 1985).
"O cerne do conceito de justiça de transição, criado há poucas décadas, inclui, a um só tempo, acesso das vítimas à verdade, à justiça penal e à reparação", escreveu Dodge em um relatório sobre o tema. Desses grupos saíram as primeiras investigações e ações penais por crimes cometidos no regime.
Raquel já disse ao blog que a Lava Jato continuará a ser aprimorada para garantir celeridade tanto no arquivamento dos casos em que não há elementos mínimos de crime, quanto para obter as condenações devidas.
Uma trajetória que parece não querer desprezar os erros do passado e os desafios do presente