segunda-feira, 13 de agosto de 2018

O NOME EDUARDO CAMPOS AINDA MILITA NA POLÍTICA PERNAMBUCANA COM FORÇA, VOZ E VEZ

Campanha eleitoral em Pernambuco vive à sombra de Eduardo Campos

Quatro anos após acidente aéreo fatal, poder do político pernambucano ainda é uma das principais vias utilizadas pelo governador Paulo Câmara para chegar ao eleitor no Estado.

“A luta não é em vão quando a semente fica”. A frase, estampada de fora a fora em um telão, aparecia logo acima das fotos de Eduardo Campos e do governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), durante um ato político em Paulista, no interior do Estado. O ano poderia ser 2014, quando Campos lançou-se candidato à Presidência e escolheu Câmara para disputar o Governo do Estado. Mas é final de julho de 2018, durante um giro do governador e candidato à reeleição pelo interior. Quatro anos após o acidente aéreo que tirou a vida de Eduardo Campos e de outras seis pessoas, em 13 de agosto de 2014, a memória do político pernambucano ainda é viva na campanha eleitoral. E o eduardismo deve ser explorado ao máximo nos próximos meses.
A vida política de Câmara está completamente vinculada a Campos. O hoje governador de Pernambuco foi secretário de Administração, de Turismo e da Fazenda ao longo das duas gestões de Campos à frente do Palácio do Campo das Princesas, entre 2007 e 2014. De perfil mais técnico, deixou seu posto na gestão para disputar o Governo do Estado no partido de Campos, em 2014. Explorada, a imagem de seu tutor colou, e ele acabou vencendo no primeiro turno, com 68% dos votos. “Eduardo teve um papel determinante pelos governos que fez, inclusive para eleger um governador que não tinha aparição”, explica o deputado socialista Tadeu Alencar.
Quando deixou o Governo de Pernambuco após duas gestões para disputar a presidência em 2014, Campos tinha 58% de aprovação, segundo o Ibope. Agora, quase no final do primeiro mandato, Paulo Câmara tem 74% de reprovação no Estado, segundo levantamento do Instituto Uninassau realizado em dezembro do ano passado. E não tem a vitória garantida, de acordo com as pesquisas. Algumas simulações demonstravam que ele poderia perder no segundo turno caso enfrentasse a petista Marília Arraes —em um acordo para tirar o PSB da disputa nacional e, com isso, neutralizar uma possível aliança com Ciro Gomes, o PT retirou a candidatura dela, que agora disputará uma vaga no Legislativo federal; nos comícios estaduais, o PSB agora também explora a imagem de Lula.

Trator Eduardo

Eduardo Campos é constantemente descrito como um político habilidoso, brincalhão e exímio imitador. Imitava assessores, políticos e jornalistas. Herdou do avô —“doutor Arraes” para políticos e autoridades e “velho arraia” para o povo mais humilde— o gosto pela política e o poder de seduzir eleitores, jornalistas e até mesmo seus pares. Conciliador, tinha habilidade para transitar por diferentes grupos, mas nos bastidores era comparado a um trator. Capaz de passar por qualquer um para alcançar seus objetivos, até mesmo da família, se preciso fosse.
Em 2013, quando as candidaturas à eleição do ano seguinte começavam a ser articuladas, sua prima e então vereadora do Recife pelo PSB, Marília Arraes, quis lançar-se à Câmara dos Deputados. Por disputas internas, Campos, que era presidente do partido, não proibiu a candidatura, mas a isolou na sigla. Marília desistiu da disputa e acabou rompendo com os socialistas. O racha na família seguiu-se após a morte de Campos, e ela se filiou ao PT em 2016. Seu único irmão, o advogado Antônio Campos, deixou o PSB no ano passado, brigado com a viúva de Eduardo, Renata Campos, e foi para o Podemos para se candidatar a deputado federal.
A dinastia de Arraes, portanto, será disputada neste ano pelas candidaturas à Câmara Federal de Antônio Campos, pelo Podemos, Marília Arraes, pelo PT, e João Campos, filho de Eduardo, que estreia no pleito aos 23 anos pelo PSB. A candidatura de João é, inclusive, a maior investida do PSB no Estado. Nos bastidores, fala-se que o objetivo não é apenas que João ocupe uma das 25 cadeiras que o Estado tem na Câmara, como também que seja o mais votado de Pernambuco. “Naturalmente as pessoas já querem votar em João. A tragédia de certa maneira cristalizou um momento mítico em que ele [Eduardo] estava ascendendo na carreira política”, opina o deputado Tadeu Alencar.