sexta-feira, 1 de junho de 2018

ENTREVISTA DO PRESIDENCIÁVEL FLÁVIO ROCHA

“O desinfetante natural contra a corrupção é a ação do livre mercado” (ISTO É)

Flávio Rocha, presidenciável do PRB, defende a privatização das 160 estatais brasileiras, incluindo a Petrobras, e diz que o usuário do serviço público deve ser tratado como se fosse um consumidor

Um dos homens mais ricos do Brasil e dono da Riachuelo, o empresário Flávio Rocha decidiu ser candidato a presidente para, segundo ele, “revolucionar” o governo. Sua ideia é reproduzir no Estado o mesmo sistema que rege suas empresas. Ou seja, uma engrenagem baseada no livre mercado. Ao replicar esse modelo, ele acredita que irá azeitar a máquina pública e, assim, atender as “donas Marias”, que, de acordo com ele, é quem puxa a carruagem do Brasil. “Essa é a novidade que trago da iniciativa privada. A dona Maria é o cliente que pode tudo, inclusive nos demitir”, disse o empresário durante entrevista aos editores de ISTOÉ, na segunda rodada da sabatina com os presidenciáveis.
De cara, Flávio Rocha propõe vender as 160 estatais, inclusive a Petrobras e os bancos públicos, como o BB e a Caixa. Assim, ele deseja que o governo deixe de investir os recursos públicos na gigantesca máquina pública e possa, dessa forma, destinar os R$ 2 trilhões arrecadados com impostos no financiamento de setores essenciais. Com a venda das estatais, pode se obter, só no primeiro ano de governo, R$ 600 bilhões, para resolver os problemas emergenciais, diz. Ele também promete fazer as quatro mais importantes reformas – tributária, previdenciária, política e do Estado – logo no início do seu eventual mandato. “Quem disser que não vai fazer a reforma da Previdência estará cometendo estelionato eleitoral”. Rocha disse acreditar que só o livre mercado pode acabar com a corrupção. “O desinfetante natural contra a corrupção é a ação do livre mercado”.
Ainda na entrevista, de duas horas de duração, o candidato revelou-se a favor da intervenção militar no Rio de Janeiro, como também em Fortaleza, “onde está havendo uma caçada de policiais”, mas diz querer distância dos militares, numa clara tentativa de se diferenciar do concorrente Jair Bolsonaro, pré-candidato do PSL.
Tal como Bolsonaro, no entanto, ele também defende que a população se arme para proteger seu patrimônio. Para o presidenciável, o fazendeiro não deve ter pudores em atirar no sem-terra que invadir sua propriedade.
Vamos começar a sabatina com o caos vivido pelo País nesta semana. Há economistas dizendo que o movimento dos caminhoneiros deu início a um levante tributário no País. O senhor acha que chegamos ao limite da carga tributária suportável?
Sem dúvida. O episódio da greve dos caminhoneiros é absolutamente emblemático para nos mostrar a inacreditável orfandade em que se encontra a imensa maioria da população. O conflito que vai reger esta eleição não é do capital contra trabalho, do rico contra pobre, do negro contra branco ou do Nordeste contra Sudeste. Será entre os que puxam a carruagem, a imensa maioria dos que suam a camisa, os que trabalham, pagam impostos e geram riquezas, contra uma minoria da aristocracia burocrática que se apropriou do Estado brasileiro, que zela por seus privilégios e que não têm compromissos com o usuário do serviço público. Eu quero representar essa mudança. Em todos os projetos políticos, da extrema esquerda à extrema direita, se olha só para os que estão no alto da carruagem. A grande novidade que eu trago como contribuição da iniciativa privada, é olhar para a dona Maria, que puxa a carruagem. Nas reuniões de diretoria da Riachuelo eu colocava uma cadeira vazia na cabeceira da mesa para simbolizar a dona Maria, que é a nossa cliente e que pode nos demitir. Essa é a lógica inversa do Estado. Fico imaginando uma reunião semelhante da diretoria da Petrobras, com os diretores nomeados por partidos políticos, se algum deles tem algum compromisso com o ‘seu’ João caminhoneiro, que está abastecendo seu caminhão nas bombas com o óleo diesel, um dos mais caros do mundo.
O movimento foi legítimo?
É legitimo, mas não se pode defender a obstrução de rodovias. A greve é um direito constitucional, mas a partir do momento em que prejudicou o povo já não apoio mais. São dois instantes. Quando ela surgiu, recebeu minha total solidariedade, mas depois passou a ser oportunisticamente apropriada por setores ideológicos, ligados a corporações. As mesmas corporações que causaram a justa indignação. Está na hora de anunciarmos a privatização da Petrobras.
Mas a privatização da Petrobras levaria a empresa a atuar como uma organização independente e o governo não teria manobra nenhuma para acabar como uma greve hoje.
O mero anúncio da privatização já acalmaria o usuário na perspectiva da redução dos privilégios, dos desperdícios, da ineficiência própria de qualquer monopólio, além da corrupção que sempre existiu. O desinfetante natural contra a corrupção é a ação do livre mercado.
O senhor faria a reforma da Previdência que o governo Temer tentou fazer e não conseguiu?
Não é só a reforma da Previdência. É a reforma para atingir o funcionalismo público. É um milhão de super-aposentadorias, que representam 75% do déficit e que estão passando ao largo na reforma da Previdência. Temos que cortar os privilégios. E não é só por problemas de caixa, mas também por uma questão de justiça social. O nosso sistema previdenciário é o Robin Hood às avessas. É tirar dinheiro do pobre para manter os maiores privilégios do País.
No sistema concentrado como o nosso, o spread bancário é violento, como reduzir?
Falei que faria quatro reformas (Previdência, tributária, política e do Estado). E se eu fosse citar a próxima eu falaria da reforma do sistema bancário. Nós estamos no piso da taxa referencial, talvez a menor da série histórica, mas o spread para a ponta praticamente não se moveu. Isso se deve a um duopólio, ou talvez a cinco bancos, que representa 86% da oferta de crédito. Isso é um gargalo, que está impedindo que chegue ao Brasil a revolução das Fintechs, que era nossa esperança para termos um cenário do sistema financeiro mais concorrencial. Mas quando aparece uma Fintech mais promissora, ela é imediatamente neutralizada pela rede bancária. Acho que o BC tem tarefa importante no sentido de fazer essa regulação.
O senhor diz que é liberal na economia, mas conservador nos costumes. Gostaríamos de saber o que o senhor acha da liberação do aborto, das drogas mais leves, como a maconha, e sobre o armamento. O senhor acha, afinal, que a população tem que se armar? E o que o senhor acha da pena de morte?
Eu me alinho à imensa maioria da população brasileira. Sou sim contra a pena de morte. Sou contra o aborto. Acredito que o estatuto do desarmamento, que o povo já se manifestou claramente em 2005, com ampla maioria o rejeitando, por enxergar um viés ideológico, faz parte do marxismo cultural, que é desarmar o camponês e soltar o MST em cima. Foi fracassada a política de desarmamento. Não estou falando em dar um fuzil a cada brasileiro, mas de 2% da população brasileira, que passa pela mesma via crucis dos testes psicológicos a que um policial é submetido. Quero que possam ter porte de arma e ajudar a vizinhança na segurança pública.
O fazendeiro tem que atirar no sem-terra por exemplo?
Ele tem que ter o seu instrumento de defesa. É absolutamente cruel, com a virulência e a agressividade das invasões dos sem-terra, que você tenha um camponês totalmente desarmado, totalmente indefeso. A defesa é legítima. Deve ser dado ao camponês o direito de defesa.
E sobre a constituição de famílias poliafetivas, reconhecimento da união entre casais do mesmo sexo, adoção de filhos por casais homossexuais, enfim, essa discussão que passa pelo campo comportamental. As religiões são interlocutoras adequadas?
Não. O Estado é laico. O nosso governo vai ser laico
Como o senhor vê a intervenção do Exército para conter a violência no Rio?
É medida extrema e necessária diante da perda do controle do Estado. Fui a Fortaleza e o quadro lá é ainda mais dramático do que o do Rio. Se mata duas vezes e meia mais do que se mata no Rio: 40 mortos a cada fim de semana. Em Fortaleza, se atingiu inacreditáveis 78 mortos para cada 100 mil habitantes. Por que não Fortaleza? Por que só o Rio? Por causa da visibilidade internacional? O caso de Fortaleza é extremo. Lá, está havendo uma caçada a policiais. É oito vezes mais perigoso ser policial do que um soldado na guerra do Vietnã ou na 2ª Guerra. É uma verdadeira caçada. É preciso prestigiar a polícia.
De 2003 a 2016, o setor produtivo recebeu de incentivos e subsídios do governo num total de R$ 420 bilhões. No mesmo período, o Bolsa-Família recebeu R$ 372 bilhões. Ou seja, os empresários receberam mais do que os mais carentes. O senhor pretende acabar com os incentivos aos empresários?
Essa é uma deformação do livre mercado. A nossa empresa, num ambiente concorrencial, para manter a equidade concorrencial, se tornou, por pressão minha, tomador de recursos do BNDES. Tomamos ao longo de 10 anos um total de R4 1,4 bilhão, que se transformaram em 200 lojas, em 13 mil empregos diretos nas nossas lojas e 60 mil empregos nos nossos fornecedores. Conosco, o BNDES não perdeu dinheiro. Nós já pagamos 90% dos empréstimos. Mas o BNDES se tornou palavrão na era petista.
Como o sr. vê o BNDES como financiador dos projetos de infraestrutura?
O que pode a curto prazo destravar o gargalo dos financiamentos necessários à infraestrutura, que é outro detrator da nossa competitividade, é a redução das travas burocráticas regulatórias. Não é falta de dinheiro. Dinheiro está abundante no mundo. Existem travas ambientais, em decorrência da legislação ambiental, da época que fazia sentido a floresta ficar intocada. A biotecnologia na Alemanha, que tem 10% da nossa área de floresta, vai representar em 2030 algo em torno de 25% do PIB. A biodiversidade pode representar grande avanço no nosso PIB a curto prazo, mas existem travas ambientais, com uma lei defasada.
A sua observação pode ser válida, mas os satélites do INPE mostram que as florestas na Amazônia estão sendo derrubadas vorazmente.
Essa é uma injustiça que se comete contra o Brasil. Dois terços do nosso País estão do jeito que Pedro Álvares Cabral encontrou. Na Europa é 0,7%. Por que eles não preservam as florestas deles? Nós não destruímos nada. Nós temos apenas 7,8% do nosso território ocupado com a agricultura.
Mas os relatórios do INPE sustentam que o volume de derrubada, queimada e destruição da Amazônia Legal continua em alta.
Esses números estão em áreas de invasão. Esse é o problema da proliferação de quilombolas.Temos 14% de áreas indígenas no Brasil. E são eles que estão desmatando.