sábado, 5 de maio de 2018

UM MARCO HISTÓRICO

50 anos depois do Maio de 68: essa data nunca se extinguirá (EL PAÍS)

A explosiva revolta estudantil e operária que mudou para sempre o Ocidente completa 50 anos enfrenta uma revisão nas mãos de uma nova geração de intelectuais

Maio de 68 está hoje tão distante no tempo como estava então o fim da Primeira Guerra Mundial. Cinco décadas, meio século. Submetida a releituras periódicas e objeto recorrente de disputas políticas, a última grande revolta estudantil e operária em Paris começa a ser um objeto histórico distante. Os protagonistas – o equivalente aos ex-combatentes de 1918 – estão aposentados ou morreram. Pela primeira vez o país tem um presidente, Emmanuel Macron, nascido depois e biograficamente desligado de eventos que, talvez pela última vez, colocaram a França no centro de um movimento político e intelectual de impacto mundial. 
A peculiaridade da efeméride é que as paixões que em outros momentos despertou parecem se apagar. Maio de 68 continua sendo uma presença constante na vida francesa: não há movimento de protesto que não se compare com o de 50 anos atrás; o último deles é o dos estudantes que ocupam faculdades há semanas ou o dos ferroviários em greve contra a reforma da SNCF, a empresa ferroviária pública. Um consenso sobre o seu significado – um momento de profunda mudança social na sociedade francesa e na ocidental, mudança irreversível e já assumida à esquerda e à direita – desenha-se pouco a pouco sem as objeções estridentes de outros tempos.
“Maio de 68 é uma data que nunca se extinguirá”, explica o historiador Benjamin Stora. Ele participou dos protestos há 50 anos como estudante do ensino médio e agora acaba de publicar 68, et Après (68, e Depois), um livro autobiográfico sobre as consequências do Maio de 68 em seu itinerário político e pessoal. “É uma data”, continua ele, “parecida com a Comuna de Paris, a revolução de 1848, a Frente Popular de 1936, a Libertação de Paris em 1944. São as grandes datas da história francesa, e isso permanecerá na memória coletiva.” Segundo Stora, estar tão distante no tempo não significa que tenha se tornado um objetivo histórico frio, indiferente para o presente. “Ah, não”, responde. “Maio de 68 não pode ser um objeto frio porque envolve muitos sentidos diferentes. A força do Maio de 68 é que representa um movimento de impulso, de abalo. Abala uma sociedade: nas relações entre homens e mulheres, nas relações com o Estado, nas relações com a política, nas relações com a organização do trabalho, nas relações com a escola. Abre uma sequência nova. É por isso que não pode ser um astro morto.”