terça-feira, 15 de maio de 2018

TERRA PARA QUEM NÃO TEM, MAS, DEVIDAMENTE LEGALIZADA E SEM VIOLÊNCIA



Um solitário defensor da Comissão Pastoral da Terra enfrentou um império da advocacia e encheu de sem-terra uma fazenda do ex-banqueiro Daniel Dantas
Havia quatro noites que os sem-terra de um acampamento nos arredores de Marabá, no sudeste do Pará, não pregavam o olho naquele final de novembro. Alertados por uma decisão judicial de dias antes, esperavam a chegada de policiais militares que retirariam dali cerca de 200 famílias que viviam na fazenda Cedro há mais de oito anos. Na manhã da data marcada para a reintegração de posse, João da Silva Oliveira, o João Careta, líder do movimento, esperou os visitantes até as 7 horas. Como os PMs não apareciam, deixou seu barraco — dois cômodos de madeira erguidos sobre chão batido, com uma cama de casal, televisão de tubo e geladeira — para fazer compras. Já na estrada, cruzou com o comboio de viaturas vindo no sentido oposto. Deu meia-volta com a moto e se colocou a postos para um possível embate.
Os invasores da área conheciam bem a força do inimigo. A proprietária da fazenda é a Agropecuária Santa Bárbara Xinguara, do banqueiro Daniel Dantas, dono da gestora de recursos Opportunity. Trata-se, seguramente, de um dos piores inimigos que alguém pode ter numa disputa judicial. Economista respeitado, Dantas é um investidor agressivo e o adversário mais duro que se conhece no mundo brasileiro dos negócios. Entre o fim da década de 1990 e o meio dos anos 2000, enfrentou uma complexa e truculenta disputa judicial com alguns dos maiores fundos de pensão estatais e a Telecom Itália em torno do controle acionário da Brasil Telecom. Em 2004, seu grupo foi alvo da Operação Satiagraha, contra crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Dantas foi preso duas vezes. Terminou absolvido da acusação de corrupção.