Alckmin entra no jogo
O tucano, pela primeira vez, fala e age como candidato e, aos poucos, começa a dar pistas do programa econômico que irá adotar caso alcance o Planalto
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, cultiva um cacoete retórico que guarda relação direta com sua personalidade. Gosta de falar pausadamente dando ênfase às sílabas, as quais pronuncia de maneira separada, quase didática – algo que jamais uma pessoa hiperativa faria. Alckmin é assim. Para ele, tudo a seu tempo. Pois ele decidiu que, agora, – não antes, como queriam caciques tucanos, – é o momento de entrar no jogo sucessório ao Planalto. Em 7 de abril, quando se desincompatibilizar do cargo de governador para virar oficialmente candidato a presidente, Alckmin terá passado 4504 dias no comando do estado que reúne quase 25% do eleitorado brasileiro – um recorde. A aprovação de quase 55% dos paulistas, avalia o tucano, o credencia para mostrar ao País que, se ajudou São Paulo a se desenvolver, pode fazer o mesmo pelo Brasil.
Em geral mais reservado, o tucano começou a baixar suas cartas. Embora bem avaliado em áreas críticas, como saúde e segurança, Alckmin preferiu, no início da largada, dar pistas do caminho que seguirá no plano econômico, caso seja eleito presidente: prometeu adotar em seu programa de governo o liberalismo como a linha mestra do desenvolvimento. O plano já está sendo alinhavado pelo banqueiro Pérsio Arida, um dos pais do Real. A idéia é acabar com a “gastança de dinheiro público” e privatizar tudo o que for viável para deixar a máquina pública mais leve e eficiente. Retomando o discurso interrompido pela derrota para Lula em 2006, ele adiantou que venderá a Petrobras e até a Caixa, deixando de fora, num primeiro momento, o Banco do Brasil. Se em 2006 ele perdeu as eleições porque vacilou na defesa das privatizações no segundo turno, desta vez ele desfralda a bandeira das parcerias, concessões e privatizações, como a principal saída de prosperidade e geração de empregos para um estado falido como o brasileiro – um discurso em sintonia com o espírito do tempo e os reclamos de uma sociedade enfastiada do que se convencionou chamar de Estado-babá, gigante, excessivamente interventor e ao mesmo tempo ineficiente e corrupto.
Considerado um conciliador, Alckmin passou a se sentir mais à vontade para falar de seu projeto nacional depois que o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB), anunciou a desistência de concorrer às prévias do partido contra ele para a escolha do candidato a presidente da República. A peleja seria realizada em março. Sem a menor chance de vitória, Virgílio jogou a toalha. Sem opositor internamente, e com a desistência de fortes concorrentes tidos como forasteiros, como o apresentador Luciano Huck, Alckmin pode, finalmente, falar com maior segurança sobre seus planos