STF retoma nesta quinta julgamento que pode restringir foro privilegiado de políticos
Proposta é deixar na Corte somente parlamentares e ministros investigados por crimes cometidos em razão do cargo; mudança poderia levar 90% dos casos para a primeira instância.
O Supremo Tribunal Federal (STF) volta a discutir nesta quinta-feira (23) uma proposta que pode restringir o alcance do foro privilegiado para políticos na Corte.
A ideia é deixar na Corte somente casos criminais de parlamentares e
ministros investigados por crimes praticados no cargo e em razão dele.
Aqueles delitos praticados antes da posse e que não guardam qualquer
relação com o exercício do cargo seriam levados à primeira instância da
Justiça.
Atualmente, qualquer ocupante de cargo de ministro no governo ou
mandato parlamentar só pode ser investigado ou processado criminalmente
no STF, por atos que tenha praticado em qualquer tempo, mesmo se não
relacionados ao cargo.
Um levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV) calcula que a mudança
na regra reduziria em 90% os processos e investigações criminais
atualmente em andamento no STF.
A proposta em discussão, do ministro Luís Roberto Barroso, foi
apresentada no início deste ano dentro de uma ação penal por suposta
compra de votos contra o prefeito de Cabo Frio (RJ), Marquinhos Mendes
(PMDB). Desde 2008, o processo já tramitou por diversas instâncias cada
vez que o político mudou de cargo.
Em seu voto, Barroso disse que a atual regra leva muitos processos à
prescrição – quando a demora no julgamento extingue a punição – porque
cada vez que um político muda de cargo, o processo migra de tribunal,
atrasando sua conclusão.
“A prática atual não realiza adequadamente princípios constitucionais
estruturantes, como igualdade e república, por impedir, em grande número
de casos, a responsabilização de agentes públicos por crimes de
naturezas diversas. Além disso, a falta de efetividade mínima do sistema
penal, nesses casos, frustra valores constitucionais importantes, como a
probidade e a moralidade administrativa”, disse no voto.