Indecisão sobre Lula faz PCdoB ter candidata
O PCdoB lançou ontem a pré-candidatura da deputada estadual
gaúcha Manuela D’Ávila à Presidência da República. É a primeira vez
desde a redemocratização do País, em 1985, que o partido lança um nome
na disputa pelo Palácio do Planalto.
Apesar do anúncio, a presidente do partido, Luciana Santos,
disse à reportagem que a pré-candidatura não afasta o PCdoB do PT, seu
aliado histórico. Segundo ela, a decisão de lançar Manuela D’Ávila foi
tomada diante da instabilidade política do País, “sem comprometer a
aliança política que possa haver com o PT lá na frente”.
“Não há um partido mais defensor do PT do que o PCdoB”, disse
Luciana. “Nós queremos nos apresentar com mais força para ajudar o
conjunto do nosso campo político a retomar a Presidência da República no
ano que vem”, explicou. Segundo ela, a candidatura vai se consolidar no
processo de convenções.
Entre os petistas, as reações ao anúncio do PCdoB foram
díspares. A senadora Gleisi Hoffmann (PR), presidente nacional do PT,
comemorou a candidatura de Manuela em seu perfil nas redes sociais.
“Grande quadro político, grande mulher! Ali na frente nos encontraremos,
Manu!”, escreveu no Twitter.
Já o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) lamentou o anúncio.
“Respeito o PCdoB, respeito a Manuela, acho que ela é um dos melhores
quadros da nova geração. Mas considero a decisão um erro histórico.” Ele
comparou a decisão à posição dos comunistas em 1954, na crise que levou
ao suicídio de Getúlio Vargas. Na época, o partido pressionou pela
renúncia.
Para Lindbergh, os comunistas deveriam estar com o PT desde
já. “Acho um equívoco em um momento como este, em que querem impedir a
candidatura de Lula.”
Sete
Desde 1989, os comunistas apoiaram todas as sete candidaturas
presidenciais petistas. Com 12 deputados federais em exercício, o
partido pode ampliar o tempo de propaganda na TV do candidato que
apoiar. Em nota, a sigla disse que o objetivo da candidatura é a
“retomada do crescimento, defesa e ampliação dos direitos do povo e
reforma do Estado”.
Perguntada sobre as declarações recentes do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e do presidente estadual do PT em São Paulo, Luiz
Marinho, Luciana Santos afirmou que as falas de ambos – que pavimentam o
caminho para alianças do PT com o PMDB e com outros partidos que
apoiaram o impeachment da petista Dilma Rousseff – não estremecem as
relações entre petistas e comunistas. “O que deve nos mover é barrar a
agenda do governo Temer. E, para barrar a agenda, a gente tem que juntar
forças”, afirmou.
Ela disse também que o PCdoB ainda defende o direito de Lula
sair candidato em 2018. O petista é réu na Justiça em sete processos e
já foi condenado em um deles a 9 anos e 6 meses de prisão pelo juiz
federal Sérgio Moro, sob as acusações de corrupção e lavagem de
dinheiro. Por isso, ele corre o risco de ficar inelegível até a próxima
corrida presidencial, caso a decisão seja confirmada em segunda
instância. “Consideramos que esse processo que Lula está vivendo é
político”, disse.
Luciana afirmou ainda que existe a possibilidade de uma
aliança entre PT e PCdoB em 2018. Segundo ela, “a instabilidade política
é a marca do momento”. “Achamos que a nossa pré-candidatura precisa
estar posta para o debate nacional, para ver os desdobramentos. Neste
momento há necessidade de apresentar essa alternativa.”
Manuela D’Ávila, de 36 anos, já cumpriu dois mandatos de
deputada federal pelo Rio Grande do Sul, tendo sido a candidata mais bem
votada do Estado nas duas eleições. Ela foi também dirigente da União
Nacional dos Estudantes (UNE).