Temer critica uso de delação de Funaro em nova denúncia de Janot
Em longa
nota, presidente desqualifica doleiro ligado a Eduardo Cunha que pode
implicá-lo e embasar a segunda acusação da Procuradoria-Geral da República
O presidente Michel
Temer (PMDB), que está em viagem à China, emitiu uma longa nota
oficial, distribuída pela Secretaria de Comunicação da Presidência da
República, na qual volta a desqualificar a delação – ainda sigilosa – do
doleiro Lúcio Bolonha Funaro, que está
aguardando homologação do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal
Federal.
A delação é vista como
fundamental para embasar a segunda denúncia que o procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, irá apresentar
contra Temer, provavelmente por obstrução de Justiça. A Procuradoria sustenta
que, em conversa entre Joesley Batista, dono da JBS, e o presidente, no Palácio do
Jaburu, em março deste ano, gravada pelo empresário, ficou claro que Temer
assentiu com o pagamento de dinheiro a Funaro e ao ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para que
eles não firmassem acordo de colaboração premiada. Também é esperado que Funaro
detalhe o repasse de dinheiro ilegal a outros líderes do PMDB, o que também
implicaria o presidente.
Na nota, Temer diz que a
delação, apesar de estar sob sigilo, “tem vazado ilegalmente na imprensa nos
últimos dias” e afirma que ela “apresenta inconsistências e incoerências
próprias de sua trajetória [de Funaro] de crimes”. Ele afirma, ainda, que o
doleiro acionou meses atrás a Justiça para cobrar valores devidos a ele
pelo grupo empresarial de Joesley, mas “por alegados serviços prestados,
negando que recebesse por silêncio ou para evitar delação premiada”.
“Ainda não está claro como se
deu sua conversão diante do procurador-geral da República. Nem sabemos quais
benefícios ele obteve em sua segunda delação [a primeira foi durante o
Mensalão, no qual também esteve envolvido], se chegam perto do perdão total e
da imunidade eterna concedidos aos irmãos Batista”, afirma a nota, para, em
seguida, cutucar Janot pelo acordo com a JBS. “Que, aliás, acabam de refazer
sua delação, demonstrando terem mentido e omitido fatos, sobretudo
em relação às falcatruas contra o BNDES.”
A nota lembra que o próprio
Ministério Público Federal destacou há cerca de um ano que Funaro é uma “pessoa
que tem o crime como modus vivendi e já foi beneficiado com a
colaboração premiada, um dos maiores incentivos que a Justiça pode conceder a
um criminoso, a fim de que abandone as práticas ilícitas”. “Qual mágica teria
feito essa pessoa, que traiu a confiança da Justiça e do Ministério Público,
ganhar agora credibilidade?”, questiona o presidente na nota.
O comunicado cita, ainda, que
Funaro já fez ameaças a outras pessoas. Segundo relatou a PGR, ele ameaçou
matar um idoso de mais de 80 anos [Milton Schahin, dono da construtora
Schahin] e a um outro [Fábio Cleto, ex-diretor da Caixa] prometeu
“colocar fogo na casa dele com os filhos dentro.” “Agora, diante da vontade
inexorável de perseguir o presidente da República, Funaro transmutou-se
em personagem confiável. Do vinagre, fez-se vinho”, diz a nota.