domingo, 3 de setembro de 2017

DELAÇÃO DE FUNARO APROXIMA TEMER AINDA MAIS DA CORRUPÇÃO



Temer critica uso de delação de Funaro em nova denúncia de Janot
Em longa nota, presidente desqualifica doleiro ligado a Eduardo Cunha que pode implicá-lo e embasar a segunda acusação da Procuradoria-Geral da República
O presidente Michel Temer (PMDB), que está em viagem à China, emitiu uma longa nota oficial, distribuída pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República, na qual volta a desqualificar a delação – ainda sigilosa – do doleiro Lúcio Bolonha Funaro, que está aguardando homologação do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal.
A delação é vista como fundamental para embasar a segunda denúncia que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, irá apresentar contra Temer, provavelmente por obstrução de Justiça. A Procuradoria sustenta que, em conversa entre Joesley Batista, dono da JBS, e o presidente, no Palácio do Jaburu, em março deste ano, gravada pelo empresário, ficou claro que Temer assentiu com o pagamento de dinheiro a Funaro e ao ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para que eles não firmassem acordo de colaboração premiada. Também é esperado que Funaro detalhe o repasse de dinheiro ilegal a outros líderes do PMDB, o que também implicaria o presidente.
Na nota, Temer diz que a delação, apesar de estar sob sigilo, “tem vazado ilegalmente na imprensa nos últimos dias” e afirma que ela “apresenta inconsistências e incoerências próprias de sua trajetória [de Funaro] de crimes”. Ele afirma, ainda, que o doleiro acionou meses atrás a Justiça para cobrar  valores devidos a ele pelo grupo empresarial de Joesley, mas “por alegados serviços prestados, negando que recebesse por silêncio ou para evitar delação premiada”.
“Ainda não está claro como se deu sua conversão diante do procurador-geral da República. Nem sabemos quais benefícios ele obteve em sua segunda delação [a primeira foi durante o Mensalão, no qual também esteve envolvido], se chegam perto do perdão total e da imunidade eterna concedidos aos irmãos Batista”, afirma a nota, para, em seguida, cutucar Janot pelo acordo com a JBS. “Que, aliás, acabam de refazer sua delação,  demonstrando  terem mentido e omitido fatos, sobretudo em relação  às  falcatruas contra o BNDES.”
A nota lembra que o próprio Ministério Público Federal destacou há cerca de um ano que Funaro é uma “pessoa que tem o crime como modus vivendi e já foi beneficiado com a colaboração premiada, um dos maiores incentivos que a Justiça pode conceder a um criminoso, a fim de que abandone as práticas ilícitas”. “Qual mágica teria feito essa pessoa, que traiu a confiança da Justiça e do Ministério Público, ganhar agora credibilidade?”, questiona o presidente na nota.
O comunicado cita, ainda, que Funaro já fez ameaças a outras pessoas. Segundo relatou a PGR, ele ameaçou matar um  idoso de mais de 80 anos [Milton Schahin, dono da construtora Schahin] e  a um outro [Fábio Cleto, ex-diretor da Caixa] prometeu “colocar fogo na casa dele com os filhos dentro.” “Agora, diante da vontade inexorável de perseguir o presidente da República, Funaro  transmutou-se em personagem confiável. Do vinagre, fez-se vinho”, diz a nota.