O
resultado da votação na Câmara nesta quarta-feira tem efeitos muito mais amplos
do que o arquivamento da denúncia por corrupção passiva contra o presidente
Michel Temer. A afirmação é do cientista político da Unicamp Marcos Nobre, um
especialista em PMDB.
De acordo com ele, em
sua face mais visível, a votação lançou o peemedebista e seu governo no colo do
chamado Centrão - uma bancada suprapartidária de parlamentares de pouca
expressão organizados pela primeira vez sob a batuta do ex-presidente da Câmara
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), atualmente preso pela Lava Jato.
Com essa base, é
improvável que Temer seja capaz de aprovar reformas estruturais e deverá passar
os próximos 16 meses de mandato debelando crises, afirma.
Em seu aspecto mais
relevante, no entanto, a votação representou uma "cisão
incontornável" do PSDB.
Na sua avaliação, o
partido está dividido ao meio pelo anseio do governador paulista Geraldo
Alckmin de viabilizar sua candidatura presidencial em 2018 e do pragmatismo do
senador Aécio Neves, que se coloca como líder do Centrão.
E as manobras de
bastidor de Aécio, que ajudaram a garantir a vitória a Temer, aumentaram o
poder político do tucano e sua rede de proteção contra os efeitos das
investigações que ameaçam prendê-lo. "Aécio Neves é o novo Eduardo
Cunha", diz Nobre.
Na bancada tucana, a
divisão se expressou em 21 votos a favor da denúncia, 22 contra e 4 abstenções.
"Metade do PSDB, a turma do Aécio, desceu do muro ontem. E o Centrão vai
forçar o resto a descer também", afirma Nobre.