Como a Coreia do Norte paga por seu sofisticado programa militar?
Isolada do resto
do mundo, a Coreia do Norte gaba-se de seu poderio militar.
Neste domingo (23), o país disse neste domingo que
"estaria pronto para atacar" um porta-aviões dos Estados Unidos que
está se deslocando à Península da Coreia.
A ameaça veio estampada em um artigo de um jornal
estatal, que comparou o navio a um "animal grosseiro" e afirmou que
um ataque seria "um exemplo real para mostrar a força de nossos
militares".
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump,
ordenou que o porta-aviões USS Carl Vinson se deslocasse à região em resposta à
crescente tensão sobre os testes nucleares e de mísseis da Coreia do Norte.
Mas como o país consegue pagar por seu sofisticado
programa militar?
Exportação e
investimento
Em primeiro lugar, são necessárias divisas
internacionais. Muitos estão de acordo que a Coreia do Norte fez importantes
aquisições de tecnologia no exterior, em certos casos com fins militares.
E, apesar de ser um dos últimos países do mundo a
manter uma economia centralmente planificada, ao modo stalinista, Pyongyang
ainda consegue desenvolver um setor exportador.
Em sua página na internet, a CIA, a agência de
inteligência americana, estima o tamanho da economia norte-coreana em torno de
US$ 40 bilhões (R$ 160 bilhões), similar ao PIB de Honduras ou do Estado
brasileiro de Goiás.
As exportações da Coreia do Norte somam, por outro
lado, US$ 3,834 bilhões (R$ 15 bilhões), o equivalente às vendas externas de
Moçambique ou das do minúsculo Estado europeu de San Marino, encravado na
Itália.
Entre os produtos destinados ao exterior, estão
minério e itens manufaturados, entre eles armamentos e artigos têxteis, além de
produtos agrícolas e pesqueiros.
Passando fome
Mas a resposta parece estar na natureza autoritária
e centralizada do governo, que destina os escassos recursos do país a fins
militares, nem que para isso seus cidadãos passem fome.
O PIB per capita da Coreia do Norte, ajustado pelo
seu poder de compra, chega a US$ 1,8 mil (R$ 7,2 mil), fazendo com que o país
asiático ocupe a 208ª posição entre 230 nações, nível comparável ao de Ruanda,
na África, ou do Haiti, na América Central.
Na década de 1990, o país enfrentou a ameaça de uma
escassez generalizada de produtos alimentícios básicos, e sua economia levou um
longo tempo para recuperar-se do desastre.
Foi um processo tão traumático que, até 2009, a
Coreia do Norte recebeu uma substancial ajuda alimentar da comunidade
internacional. Hoje, acredita-se que sua produção agrícola interna tenha
melhorado.
Os clientes
E quem são os clientes dos produtos norte-coreanos?
O aliado político mais importante do país é a
China, que compra 54% de sua produção. Em um inesperado segundo lugar, vem a
Argélia, que é o destino de 30% das vendas do país. E, para a Coreia do Sul,
vão 16% de suas exportações.
Apesar da Coreia do Norte e a nação vizinha viverem
um dos conflitos militares mais longos de que se tem notícia na história, em
curso desde o fim da 2ª Guerra Mundial, os dois países vêm fortalecendo os
vínculos econômicos.
Alguns investimentos sul-coreanos se concentram em
determinadas partes do país, oferecendo ao governo norte-coreano outra valiosa
fonte de divisas.
O núcleo mais importante deles é o complexo
industrial de Kaesong, que está diante de um futuro incerto depois de o governo
de Seul anunciar a suspensão de sua participação na iniciativa, devido às
crescentes tensões políticas entre ambas as nações por conta dos testes
nucleares realizados pela Coreia do Norte.
A Coreia do Sul diz não querer que os recursos
gerados pela zona industrial sejam usados no programa militar norte-coreano. E
as sanções econômicas impostas por vários países, inclusive as mais recentes
aplicadas pelo Japão, devem continuar debilitando a economia norte-coreana.
No entanto, enquanto o governo do líder
norte-coreano, Kim Jong-un, seguir disposto a impôr sacrifícios substanciais a
seus habitantes, pode-se esperar que a Coreia do Norte continue a desenvolver
seu poderio militar muito além do que seria possível esperar de uma nação com
sua frágil condição econômica.
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