Governo quer retaliar deputados aliados que não votarem contra denúncia
O governo está disposto a retaliar os deputados da
base aliada que não apoiarem o presidente Michel Temer na votação da segunda
denúncia contra ele, marcada para quarta-feira, no plenário da Câmara. Em reunião
realizada na noite deste domingo, 22, com Temer, no Palácio da Alvorada,
ministros e líderes governistas avaliaram que a votação representará o mais
importante teste de fidelidade da base e servirá para medir com quem o Palácio
do Planalto pode ou não contar de agora em diante.
Embora a ameaça não esteja sendo feita
publicamente, auxiliares de Temer afirmam que os infieis perderão cargos no
governo, o que pode levar à necessidade de uma reforma ministerial. O
diagnóstico é que a pressão do Palácio do Planalto servirá para parlamentares
indecisos reavaliarem posições, porque os partidos não vão querer perder postos
estratégicos às vésperas de um ano eleitoral.
A maior incógnita, até agora, diz respeito ao PSDB.
Em 2 de agosto, na votação da primeira denúncia apresentada pelo então
procurador-geral da República Rodrigo Janot contra Temer, por corrupção
passiva, os tucanos se dividiram. Na ocasião, 22 deputados do PSDB foram a
favor do arquivamento da acusação, mas 21 se posicionaram pela abertura do
processo no Supremo Tribunal Federal (STF). À época, afilhados políticos de
infieis perderam cargos de segundo e terceiro escalões, mas os tucanos foram
poupados.
O PSDB comanda quatro ministérios (Cidades,
Secretaria de Governo, Relações Exteriores e Direitos Humanos) e, desta vez,
vai liberar o voto da bancada. O Planalto espera o apoio da ala pró-Aécio
Neves, já que o governo trabalhou para que os senadores aliados mantivessem o
mandato do tucano, que havia sido afastado do cargo por decisão da Primeira
Turma do Supremo Tribunal Federal. Após muitas articulações políticas, a equipe
de Temer também acredita que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB),
ajudará o Planalto na quarta-feira, ao contrário do que fez na votação de 2 de
agosto, quando orientou a bancada a se posicionar contra o presidente.
Em entrevistas recentes, Alckmin classificou a nova
“flechada” de Janot contra Temer como “inepta”. A denúncia, por obstrução da
Justiça e organização criminosa, teve como eixo as delações do empresário
Joesley Batista e de outros executivos da J&F, além do depoimento do
corretor Lúcio Funaro, apontado como operador do PMDB. Os ministros Eliseu
Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) também
são alvos da investigação e foram denunciados por organização criminosa.
Temer vai se reunir com líderes da base aliada
nesta segunda e terça-feiras. Dez ministros que são deputados já foram
exonerados temporariamente e retornaram à Câmara para ajudar o governo e pedir
votos a favor de Temer.
Pelas contas do Planalto, o presidente pode ter
agora cerca de 240 votos, 23 a menos do que os 263 obtidos quando a primeira
denúncia foi apreciada na Câmara. Mesmo assim, a avaliação é que, passada essa
etapa, o governo conseguirá recuperar fôlego para retomar projetos importantes.
Com essa expectativa, a equipe de Temer já prepara o “day after” da crise e vai
lançar o mote “Agora é Avançar”. O slogan aparecerá em campanhas publicitárias,
discursos, programas e também nas redes sociais.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem
dito a Temer que é preciso criar rapidamente uma agenda de desenvolvimento.
Maia argumenta que, com uma base fragilizada, será muito difícil votar
propostas polêmicas, como a reforma da Previdência, mesmo que ela se resuma à redução
da idade mínima para a concessão da aposentadoria e à quebra de privilégios.
Padilha e o ministro da Fazenda, Henrique
Meirelles, insistem, porém, que as mudanças da Previdência entrem na pauta da
Câmara já em novembro, sob o argumento de que tudo ficará mais complicado em
2018, por causa das eleições. Os dois sustentam, ainda, que, sem essa reforma,
as contas não fecham e não será possível retomar o crescimento.
Além de Padilha e Meirelles, participaram da
reunião com Temer os ministros Moreira Franco, Antonio Imbassahy (Secretaria de
Governo) e Dyogo Oliveira (Planejamento). Estavam presentes, ainda, os líderes
do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), e no Congresso, André Moura
(PSC-SE), e o deputado Carlos Marun (PMDB-MS), relator da CPI da JBS.