‘Puxadores’ de voto rendem R$ 390 milhões a seus partidos
Os puxadores de voto da eleição de 2014 se
transformaram em um tesouro para os partidos políticos. Graças ao aumento de
recursos do Fundo Partidário e à criação de um fundo eleitoral para bancar as
campanhas de 2018, os 30 deputados mais votados vão render aos cofres das
legendas cerca de R$ 390 milhões em quatro anos.
Derrotado na eleição para prefeito de São Paulo em
2012 e 2016 e campeão de votos para a Câmara dos Deputados – em números
absolutos – em 2014, Celso Russomanno é também um cheque ambulante de quase R$
59 milhões para seu partido, o PRB.
Na campanha eleitoral, o Diretório Nacional do PRB
destinou apenas R$ 100 mil para custear os gastos de Russomanno. Ou seja, se a
eleição fosse um investimento, o PRB teria obtido um retorno de 58.600% em
quatro anos.
Os próximos no ranking de mais votados na eleição
passada, Tiririca (SP) e Jair Bolsonaro (RJ), vão render R$ 39,2 milhões e R$
17,9 milhões para PR e PP, respectivamente, no período entre 2015 e 2018.
O que explica o fenômeno são as regras de
distribuição das verbas do Fundo Partidário e do fundo especial de
financiamento de campanha, ambos formados por recursos públicos. O primeiro
serve para custear o funcionamento dos partidos – banca gastos com
funcionários, aluguéis, viagens de dirigentes, campanhas eleitorais etc. O
segundo, criado recentemente em lei aprovada pelo Congresso Nacional na reforma
política, vai custear especificamente despesas de candidatos a cargos eletivos.
Entre os critérios de distribuição dos dois fundos
está o número de votos de cada partido para a Câmara dos Deputados. E cada voto
nominal para um candidato conta também como voto no partido – uma regra que
muitos eleitores ignoram.
No caso do Fundo Partidário, 95% do dinheiro é
distribuído de acordo com o número de votos de cada partido para a Câmara. Já o
fundo eleitoral terá 35% de seus recursos rateados segundo o mesmo critério.
Fonte de receita. Isso
faz com que os puxadores de votos sejam também importantes fontes de receita
para os partidos políticos. Russomanno, por exemplo, recebeu sozinho 35% dos
votos do PRB para a Câmara dos Deputados em 2014. Isso significa que o
parlamentar responderá por 35% dos R$ 170 milhões que o PRB receberá dos cofres
públicos por seu desempenho nas urnas na eleição passada.
Mais votado no PR, Tiririca será o responsável por
18% dos recursos destinados a seu partido entre 2015 e 2018. Ele foi o
candidato preferido de pouco mais de 1 milhão de eleitores paulistas. No caso
de Bolsonaro, que teve 465 mil votos ao concorrer pelo PP do Rio, essa taxa
será de 7,2%.
O deputado mais votado pelo PMDB em 2014 foi
Eduardo Cunha, também do Rio. Apesar de o ex-presidente da Câmara ter tido o
mandato cassado e ter sido preso por envolvimento em esquema de desvios e
corrupção revelado pela Operação Lava Jato, seus 233 mil votos continuarão
rendendo dinheiro ao PMDB até o próximo ano. No total, serão quase R$ 9 milhões
entre 2015 e 2018.
Rateio. Somados
os votos de todos os candidatos a deputado, os partidos políticos mais
beneficiados na divisão de recursos públicos, de acordo com o desempenho nas
urnas, serão PT, PSDB e PMDB, nessa ordem. Eles tiveram, respectivamente,
13,9%, 11,3% e 11% dos votos para a Câmara dos Deputados em 2014