Um governo sob pressão
Denúncia de Janot, abertura de inquérito no STF e delação de Funaro voltam a acender o sinal de alerta no Planalto
A pedra estava mais do que
cantada. Mesmo assim, o Palácio do Planalto passou a última semana debaixo de
tensão, à espera da nova denúncia do Procurador-Geral da República (PGR),
Rodrigo Janot. O destino se cumpriu. Na quinta-feira 14, Janot denunciou Temer
por obstrução de Justiça e organização criminosa. Em função das recentes
trapalhadas do procurador-geral, e não foram poucas, fontes ligadas ao
presidente levam fé que a nova investida tem tudo para naufragar. Mesmo assim,
a pressão recrudesceu sobre o Planalto e vai voltar a exigir habilidade de
enxadrista para que o presidente mobilize sua base aliada no Congresso para
impedir que a denúncia prospere, assim como ocorreu na primeira ação movida
pelo PGR em agosto.
Na denúncia de última hora, o
procurador-geral afirmou que “diversos elementos de prova” apontam que o
presidente Michel Temer tinha “papel central” na suposta organização criminosa.
Janot diz que “ao entrar na base do governo Lula, Temer mapeou, de pronto, as
oportunidades na Petrobras”. O PGR chega a citar trechos da delação do
ex-diretor da área internacional da estatal, Nestor Cerveró, para comprovar a
ascendência de Temer no que chama de “organização criminosa”. “Em 2006, já
havia a perspectiva de grandes negócios na diretoria Internacional da
Petrobras, o que certamente já era de conhecimento do PMDB”, diz trecho da
denúncia de Janot. Para ele, Temer, Henrique Alves e Eduardo Cunha eram os
responsáveis pela obtenção de vantagens para o PMDB dentro do governo petista.
O procurador assegura, ainda,
que o grupo de peemedebistas articulou uma tentativa de “cooptação de membros
do Poder Judiciário” e buscou “a desestruturação, por vingança e precaução”, de
futuras atuações do Ministério Público, como, por exemplo, a aprovação da lei
de abuso de autoridade. “Ao denunciado Michel Temer imputa-se também o crime de
embaraço às investigações relativas ao crime de organização criminosa, em concurso
com Joesley Batista e Ricardo Saud, por ter o atual presidente da República
instigado os empresários a pagarem vantagens indevidas!”, diz Janot.
No apagar das luzes de
seu mandato, Janot não atinge somente o presidente Temer. Estende-se também à
cúpula do governo, e a quatro políticos do PMDB: o ex-deputado Eduardo Cunha
(preso pela Lava Jato em Curitiba), o ex-presidente da Câmara Henrique Alves
(preso por desvios na construção do Estádio das Dunas, no Rio Grande do Norte),
o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, conhecido como o homem da mala com R$ 500
mil, e o ex-ministro Geddel Vieira Lima, que escondeu R$ 51 milhões num
apartamento em Salvador. Os políticos do PMDB são acusados de arrecadar mais de
R$ 587 milhões em propinas oriundas de vários órgãos públicos. A nova denúncia
passará a ser conduzida pela procuradora Raquel Dodge, que assumirá o cargo
nesta segunda-feira 18.
Decreto dos Portos
O Planalto já havia
experimentado outro dissabor na terça-feira 12, quando ministro Luis Roberto
Barroso, do STF, autorizou abertura de inquérito pela PGR contra Temer por
suposto favorecimento à empresa Rodrimar, de Santos, em Decreto dos Portos de
autoria do presidente. O decreto foi assinado em maio deste ano e, segundo a
PGR, favoreceu a Rodrimar. Além do presidente, serão investigados ainda o
ex-assessor do presidente Rodrigo Rocha Loures e os empresários Antonio Celso
Grecco e Ricardo Conrado Mesquita, ambos diretores da empresa santista.
Temer ainda viu seu nome ser envolvido na denúncia do chamado “Quadrilhão
do PMDB”, baseado em um relatório da Polícia Federal concluído na semana
passada. O relatório atribui a ele o recebimento R$ 31,5 milhões em propinas.
Tornadas públicas no início da semana, declarações do doleiro Lúcio Funaro,
preso no Complexo da Papuda, em Brasília, à força-tarefa da Lava Jato, como
parte das tratativas da delação, já indicavam ventos desfavoráveis e cortantes
no horizonte. Principal operador de propinas do PMDB, o corretor disse que
Temer recebeu propina de R$ 20 milhões de um dos fundadores da Gol Linhas
Aéreas Henrique Constantino para o apoio à abertura do setor aéreo. A espada de
Dâmocles volta a pender sobre o Executivo.
