Enquanto os brasileiros anseiam por sangue novo em
um mundo político completamente desacreditado, o ex-presidente do Supremo
Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, desponta como uma opção para as
eleições de outubro.
Embora Barbosa - que tem origem humilde e começou
sua vida profissional como faxineiro - ainda não tenha se declarado candidato,
seu nome está no centro de muitas especulações.
Na semana passada, ele participou de uma reunião do
Partido Socialista Brasileiro (PSB), ao qual se filiou recentemente. Ele ficou
cercado por um enxame de jornalistas curiosos para saber se pretende ser
candidato.
"Eu ainda não consegui convencer a mim mesmo
de que deva ser candidato", declarou, acrescentando que sua família é
contrária a isso.
Joaquim Barbosa nunca ocupou um cargo eletivo. No
entanto, muitos analistas veem o ex-ministro de 63 anos como um candidato
poderoso.
O Brasil emendou o impeachment da presidente Dilma
Rousseff em 2016, com a denúncia de seu sucessor, Michel Temer, por corrupção
em 2017 e, agora, a prisão de um dos presidentes mais populares do país, Luiz
Inácio Lula da Silva, também por corrupção.
Nesse contexto sombrio, os eleitores anseiam por
algo novo, por um "outsider".
A operação "Lava Jato" continua a fazer
estragos no meio político, quatro anos após seu início. O eleitor agora exige
que seu novo chefe de Estado seja impoluto e lidere firmemente a luta contra a
corrupção que corrói o país.
Uma candidatura de Barbosa poderia ser uma resposta
a estes anseios.
No STF, ele iniciou uma cruzada contra a corrupção
em 2005, com o escândalo do "Mensalão", que derrubou lideranças muito
próximas a Lula no PT, acusadas de um esquema de compra de votos.
Além disso, desde sua aposentadoria em 2014, o juiz
não apareceu muito em público e não teve envolvimento em nenhum escândalo.
Para Carlos Siqueira, presidente do PSB, Barbosa é
a pessoa pode curar as feridas abertas do Brasil.
"Trouxemos alguém de fora do mundo da
política, mas que não seja contra a política, que entenda que é através da
política que nós podemos encontrar uma solução para a crise", explicou.
"O eleitorado dele, que é o mesmo do partido,
é de centro-esquerda, e quer a volta da normalidade no Brasil",
acrescentou.
Uma pesquisa do Datafolha divulgada após a prisão
de Luiz Inácio Lula da Silva neste mês garantiu o terceiro lugar, com 10% das
intenções de voto, para Joaquim Barbosa, um percentual especialmente animador
uma vez que ele ainda não é candidato declarado.
- Diplomata e poliglota -
Joaquim Barbosa também tem uma história de vida
sedutora, capaz de competir com as origens humildes de Lula.
Primogênito de oito filhos de pai pedreiro, começou
trabalhando na limpeza de um tribunal trabalhista em Brasília.
Estudou Direito na Universidade de Brasília, foi
diplomata por um breve período e se tornou poliglota enquanto galgava seu
caminho para a Suprema Corte, onde se tornou o primeiro presidente negro.
Se fosse eleito, não seria o primeiro chefe de
Estado negro do Brasil, tendo sido precedido pelo efêmero presidente Nilo
Peçanha há mais de um século (1909-1910).
Mas a chegada à chefia de Estado teria uma forte
carga simbólica, em um país onde mais de metade da população se define como
negra, ou parda, mas o racismo persiste e quase nenhum negro tem posição
proeminente na política e nos negócios.
No entanto, os analistas também apontam para as
fragilidades de Barbosa, como a aparente falta de clareza em suas tendências
política e econômicas e sua inexperiência na política.
Ele é visto como um centrista que pode conquistar
os eleitores que não gostam da esquerda Lula e da extrema-direita Jair
Bolsonaro.
"É difícil saber se ele vai se inclinar mais
para a esquerda e tentar capturar o voto de Lula, ou permanecer fiel a sua
imagem, e mais de centro-direita", afirma Michael Mohallem, professor de
Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
"Mas ele terá que decidir", enfatiza.
Seu temperamento é frequentemente definido como
problemático. No STF, muitas vezes foi arrogante e irascível.
A questão é se o homem que já combateu as elites
corruptas conseguirá chegar ao topo, uma vez que o favorito dos eleitores,
Lula, deve ser declarado inelegível.
"Hoje, no
Brasil, tudo é possível", diz Sylvio Costa, fundador do site político
"Congresso em Foco".