'Ele se inteirou disso ou ele está falando por ordem de alguém?', diz Janot sobre declaração de Segovia
Mais cedo, novo diretor-geral da Polícia Federal questionou inquérito que culminou com acusação contra Michel Temer. Ao jornal 'Folha de S.Paulo', ex-PGR criticou declaração
Mais cedo, após tomar posse, Segovia afirmou que se a apuração sobre
Temer estivesse “sob a égide” da PF, e não da PGR, a corporação pediria
mais tempo para avaliar “se havia ou não corrupção”. Disse ainda que
"uma única mala" "talvez" seja insuficiente para comprovar se os investigados cometeram crime de corrupção.
Em relatório entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF), em junho, a
própria Polícia Federal afirmou que as evidências colhidas na
investigação indicavam "com vigor" que Temer cometeu o crime de corrupção passiva.
Em entrevista ao jornal "Folha de S.Paulo", Rodrigo Janot criticou a
declaração e questionou os motivos para a fala de Segovia.
"A pergunta que não quer calar é: ele se inteirou disso ou ele está
falando por ordem de alguém?", disse Janot, que compartilhou a
entrevista em sua conta pessoal no Twitter.
Ao comentar as declarações, Janot apontou desconhecimento por parte de
Segovia do trabalho desenvolvido pela Polícia Federal durante as
investigações e disse que o novo diretor da PF "precisa dar uma
estudadinha" na lei processual.
"O doutor Segovia precisa estudar um pouquinho direito processual
penal. Nós tínhamos réus presos [durante o inquérito]. Em havendo réu
preso – se ele não sabe disso é preciso dar uma estudadinha –, o
inquérito tem que ser encerrado num prazo curto, e a denúncia,
oferecida, senão o réu será solto. Então, nós tínhamos esse limitador",
disse Janot à "Folha".
"Não era um preso qualquer, era um deputado federal [Rocha Loures] que
andou com uma mala de R$ 500 mil em São Paulo, depois consigna a mala
[devolve à polícia]. Faltava 7% do dinheiro, ele faz um depósito
bancário para complementar o que faltava e o doutor Segovia vem dizer
que isso aí é muito pouco? Para ele, então, a corrupção tem que ser
muita, para ele R$ 500 mil é muito pouco? É estarrecedor", criticou o
ex-procurador-geral.
Janot também respondeu às críticas feitas por Fernando Segóvia à condução do inquérito. O diretor-geral da PF afirmou que quem estabeleceu o “deadline” (tempo limite) para o fim da investigação foi a PGR."Todos os atos de investigação foram feitos a pedido nosso [da PGR] com
autorização do Supremo e realizados por colegas de trabalho dele. Ele
está negando esse trabalho de excelência da PF em matéria de
investigação", respondeu Janot.