Procuradores
reúnem agendas que contrariam versão de Lula em ação
Foto: Danilo Fernandes/Futura Press
FELIPE BÄCHTOLD E
JOSÉ MARQUES
SÃO PAULO, SP
(FOLHAPRESS) - Procuradores da Lava Jato protocolaram documentos no processo
sobre o apartamento tríplex de Guarujá (SP) que contradizem declaração dada
pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu depoimento ao juiz Sergio
Moro, na última quarta (10).
No interrogatório,
Lula disse que desconhecia ilegalidades na estatal e afirmou que um presidente
da República "não tem reunião específica com diretor" da Petrobras,
mencionando duas exceções durante seu governo.
O Ministério
Público Federal, porém, anexou no processo agendas que mostram ao menos 23
reuniões e viagens de Lula com diretores da estatal em seus dois mandatos,
incluindo Paulo Roberto Costa, Renato Duque e Jorge Zelada -todos já condenados
em processos da operação.
"Nos oito
anos que eu fiquei na Presidência da República, a gente não tem reunião com a
diretoria da Petrobras. Eu em oito anos tive dois momentos: quando nós
descobrimos o pré-sal para discutir o plano estratégico e para decidir, sabe,
que a gente não ia fazer leilão do pré-sal. Era até em uma viagem que eu ia
para a Argentina", disse Lula a Moro, ao ser questionado a respeito de
Duque, que ocupou a diretoria de Serviços da estatal.
Os documentos
foram fornecidos pela própria Petrobras, que é assistente da acusação no
processo. As agendas preveem Lula se reunindo para discutir temas pontuais,
como uma de 2008 que tem como tema "propeno na Revap" (Refinaria
Henrique Lage), em São Paulo.
Além dos réus da
Lava Jato, também aparecem compromissos de Lula com outros ex-diretores da
estatal, como Graça Foster e Guilherme Estrella. Então ministra, a
ex-presidente Dilma Rousseff também é listada em agendas como participante.
Paulo Roberto
Costa, primeiro delator da Lava Jato e primeiro ex-executivo da estatal a ser preso,
é o diretor que mais aparece em compromissos com o então presidente, incluindo
sete agendas em que não há menção a outros participantes. Há referências, por
exemplo, a "jantar em Beijing [Pequim] com Lula", em 2009, ou um
encontro, no Palácio do Planalto, em 2006.
PRAZO
A tentativa da
Procuradoria de ligar Lula ao cotidiano da Petrobras faz parte da estratégia da
acusação de afirmar que a OAS pagou propina ao petista, incluindo o tríplex, em
troca de benefícios em contrato da estatal. No documento de denúncia, o
Ministério Público chama Lula de "comandante da estrutura criminosa"
na companhia.
Lula chegou a
declarar no depoimento que nenhum presidente "foi mais à Petrobras"
que ele. Depois, no entanto, disse que o mandatário não integra o "dia a
dia ou mês a mês" da estatal. "Ele participa de raríssimas reuniões e
eu falei de duas que participei", reafirmou Lula.
Ao anexar as
agendas, em petição na segunda-feira (15), o Ministério Público Federal não deu
detalhes. No dia do depoimento, Moro havia dado um prazo de cinco dias a para a
inclusão de documentos no processo, que está entrando nas últimas etapas antes
da sentença.
A reportagem
procurou a defesa do ex-presidente, que não respondeu até as 20h de ontem.