Após
se livrar de cassação no TSE, qual é a chance de Temer cair? O que dizer do resultado? Qual o respeito dos brasileiros em relação a justiça do País? E o povo, como reagirá a tudo isso? Agiram com decência e imparcialidade os Ministros do TSE?
No Congresso, já é dado como certo que o
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentará uma denúncia contra o
presidente nos próximos dias
Mesmo com a absolvição de Michel Temer no
Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
— no processo que investigou suspeitas de irregularidades cometidas pela
chapa que o elegeu vice-presidente do Brasil em 2014 — o mandato do
peemedebista ainda corre riscos.
No Congresso, já é dado como
certo que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentará uma denúncia contra o
presidente nos próximos dias – tomando como base as delações de Joesley
Batista, dono do frigorífico JBS.
Pelas regras, porém, a denúncia
só pode ser encaminhada para análise do Supremo Tribunal Federal (STF)
caso dois terços da Câmara dos Deputados aprove o processo. Se acolhido no
Supremo, Temer se tornaria réu e seria afastado temporariamente do cargo até a
conclusão do julgamento.
Para tentar impedir o avanço da
ação no STF e garantir sua permanência no Planalto, Temer já
teria montado uma estratégia para negociar cargos e emendas com deputados e
senadores. Afinal, para barrar a investigação ele precisaria do
apoio de 172 dos 513 parlamentares.
Outros dois fatores devem ainda
servir como instrumentos para desestabilizar o governo. EXAME.com consultou
cientistas políticos e consultorias para entender as ameaças que estarão à
espreita de Michel Temer daqui para frente. Veja quais são:
Rompimento do PSDB
A tensão gerada pelas delações
do empresário Joesley Batista e outros executivos da JBS, que acusam o
presidente de prática de corrupção, fez a cúpula do PSDB articular um possível desembarque da
base aliada do governo.
“O simples fato de a
Procuradoria-Geral da República (PGR) protocolar uma denúncia contra Temer já é
motivo suficiente para o desembarque da bancada tucana”, afirma Thiago Vidal,
coordenador de análise política da consultoria Prospectiva. Segundo o
especialista, outros fatores desestabilizadores podem acelerar a saída do
partido.
A mudança de versão relatada
pelo presidente sobre ter utilizado
um avião particular de Joesley Batista para uma viagem particular,
por exemplo, é um dos motivos que agravam a relação de Temer com a sigla.
De acordo com Vidal, é possível
que aconteça um efeito cascata de desembarque. “Nenhum partido quer colocar a
sua credibilidade em xeque por estar relacionado a um governo comprometido em
escândalos de corrupção”, diz.
Se perder a base, o governo
enfrentará dificuldades para barrar a denúncia da PGR no Supremo. A única
saída, segundo Vidal, seria a renúncia de Temer.
“Se o PMDB comprovar
internamente que ele será afastado do cargo pelo STF, a opção menos desgastante
para a sua imagem é a renúncia”, diz. “Essa seria a melhor alternativa para
evitar o constrangimento de passar pelo julgamento.”
A permanência do PSDB na base
governista será decidida na próxima segunda-feira (12), durante a reunião da
Executiva Nacional.
Por outro lado, na opinião de
Antônio Flávio Testa, cientista político e professor da Universidade de
Brasília (UNB), a saída dos tucanos não significaria o isolamento do presidente
com os representantes do Congresso. “Ele ainda teria a alternativa de montar
uma outra base de sustentação”, diz. “Não será fácil, mas é possível”.
Delação de Rocha Loures
A prisão de Rodrigo Rocha Loures,
ex-assessor de Michel Temer, é outro fator que pode selar o destino do
presidente. Loures, que está no Presídio da Papuda, na capital federal, foi
preso preventivamente pela Polícia Federal (PF) no último sábado (3).
Em março deste ano, o
ex-deputado foi filmado pela PF recebendo
uma mala com R$ 500 mil de propinas da JBS. Segundo depoimento dos
executivos da JBS, parte do dinheiro teria sido repassada para o presidente
como pagamento de um acordo de propina.
Nos bastidores, há expectativa
de que Loures negocie um acordo de delação premiada. Sua família estaria
pressionando o ex-deputado a fechar o acordo – um agravante seria o fato de que
sua esposa está grávida de oito meses.
Em tempo: tudo
começou com a recusa do ex-ministro Osmar Serraglio para assumir o Ministério
da Transparência, que fez com que Loures perdesse a cadeira que
ocupava na Câmara dos Deputados (ele é suplente da bancada do Paraná) e, por
consequência, o foro privilegiado.
Outros fatores
Mesmo diante do clima de
incerteza, a análise da a consultoria Eurasia mostra que, com a absolvição de
Temer no TSE, as chances do peemedebista se manter na presidência até 2018
aumentaram de 40% para 70%.
“Acredito que o presidente irá
sobreviver sim ao turbilhão político e encerrar o seu mandato. Mas isso não
quer dizer que ele vá retomar as mesmas condições de governabilidade de antes”, afirma
Antônio Flávio Testa, cientista político e professor da Universidade de
Brasília (UNB).
Ainda assim, o surgimento de
novos fatos que comprometam o presidente pode impulsionar a mobilização popular
e deixar o governo por um fio.
Segundo Thiago Vidal,
coordenador de análise política da consultoria Prospectiva, a gestão de Temer
já está enfraquecida. O desafio, agora, é acirrar a estratégia para tentar
reverter o desgaste. Mas o pior ainda está por vir, diz Vidal.