Deputado da mala da propina da JBS planeja delação premiada
Defesa de Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) procurou
investigadores da Lava-Jato
BRASÍLIA -A defesa do deputado afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) procurou
investigadores da Operação Lava-Jato. Em encontro na semana passada, um
emissário de Loures quis saber quais seriam as chances de uma delação premiada
do deputado ser aceita. A abordagem surpreendeu os investigadores. Esse não era
o objeto declarado da reunião. Depois de confabular com outros colegas, os
investigadores responderam que, àquela altura dos acontecimentos, um eventual
acordo de colaboração dependeria da disposição do parlamentar denunciar os
demais cúmplices.
As
duas partes ficaram de voltar a conversar sobre o assunto. Uma eventual delação
de deputado é bem vista na força-tarefa da Lava-Jato. Mas as eventuais
confissões do deputado não são consideradas imprescindíveis para os
desdobramentos do inquérito em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF).
Para eles, as delações dos executivos da JBS, que atingem o presidente Michel
Temer, as ações controladas que já resultaram na recuperação de parte da
propina paga recentemente e a análise do material apreendido até o momento já
contêm indícios veementes de crimes.
Investigadores
da Lava-Jato informaram a um emissário de Rocha Loures que, se ele realmente
está interessado num acordo de delação premiada, terá que entregar todos os
cúmplices da organização criminosa acusada de receber suborno dos donos da JBS
e tentar obstruir as investigações sobre as supostas fraudes. Para
investigadores, não bastaria uma admissão de culpa e a revelação de crimes já
investigados pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Polícia Federal. Com
base nos dados já obtidos até momento, o STF já abriu inquérito contra Temer, o
senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG), contra o próprio Loures, entre outros
envolvidos.
—
Assumir que cometeu crimes não basta. Isso é confissão, não é delação. Se ele
quiser acordo de colaboração terá que delatar toda a organização criminosa —
disse um integrante da operação.
Os investigadores também consideram o caso do Rocha Loures
um dos mais bem documentados da Lava-Jato. A suposta trama aparece numa
conversa entre Temer e o empresário Joesley Batista, no Palácio do Jaburu, na
noite de 7 de março. No diálogo, gravado pelo empresário, o presidente indica
Loures para conversar com Joesley sobre os interesses dele no governo. Temer
diz que, com Loures, Joesley poderia falar “tudo”. Numa outra conversa, Loures
é flagrado tratando de cargos e decisões estratégicas do governo com o
empresário, naquele momento alvo de cinco inquéritos criminais.
Num
terceiro momento, a Polícia Federal filma e fotografa o executivo Ricardo Saud,
um dos negociadores da propina, entregando a Loures uma mala com R$ 500 mil. O
dinheiro seria parte de uma propina de R$ 480 milhões a ser paga ao longo de 20
anos, conforme o sucesso dos negócios acertados entre o deputado e um dos donos
da JBS. Como se não bastasse, a mala foi apreendida e, em seguida, o deputado
depositou em juízo R$ 35 mil, extraviados antes das buscas da polícia.
Aliados
do Palácio do Planalto, por sua vez, estranharam a decisão de Loures, de
entregar a mala recebida de Saud. Segundo um deles, como a PF optou por não
prendê-lo em flagrante e a mala não foi rastreada, haveria um caminho óbvio de
defesa que consistiria em dizer que a mala recebida não tinha dinheiro e que o
caso seria uma armação. No momento em que entregou os recursos e devolveu
inclusive os R$ 35 mil restantes, fez da acusação uma confissão.
Na
segunda-feira, Loures anunciou a troca do advogado José Luis de Oliveira, o
Juca, pelo colega Cezar Roberto Bitencourt. Procurado pelo GLOBO, o novo
advogado criticou a gravação da conversa entre Joesley Batista e Temer, apontou
supostas ilegalidades na investigação e chegou a negar que o deputado tenha
recebido mala de dinheiro — apesar da devolução para a polícia na semana
passada. No entanto, apesar de dizer que a delação não está sendo cogitada,
deixou aberta esse caminho.
— Eu
não afasto essa possibilidade (de acordo de delação) definitivamente. Eu sou
filosoficamente contra, mas, como defensor, tenho que buscar o que é melhor
para o meu cliente — disse o advogado Cezar Roberto Bitencourt.
O
caso do deputado é considerado tão grave que o procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, chegou pediu o afastamento e a prisão dele. O ministro Edson
Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo, acolheu o pedido para afastar Loures
de suas atividades políticas, mas entendeu que a ordem de prisão dependeria de
uma decisão do plenário do tribunal. Janot resolveu, então, refazer o pedido. A
decisão está pendente e pode acontecer a qualquer momento.
O pedido de prisão alcança também Aécio Neves, acusado de pedir R$ 2 milhões a
Joesley em encontro que os dois tiveram antes de o empresário fazer acordo de
delação premiada com a Procuradoria-Geral da República. A negociação revelada
pelas gravações já resultou na prisão de Andrea Neves e Frederico Pacheco de
Medeiros, a irmã e o primo do senador. Andrea teria sido a primeira a pedir os
R$ 2 milhões para Joesley. Medeiros foi o encarregado de transportar a mala com
o dinheiro.