BRASÍLIA - O ex-ministro Nelson Jobim procurou caciques
do PSDB nos últimos dias para medir o apoio que teria no partido para uma
eventual candidatura a presidente da República, caso o presidente Michel Temer
seja cassado ou renuncie ao cargo. Desde que a delação dos donos da JBS
incriminando Temer foi divulgada, Jobim já conversou pessoalmente com o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e por telefone com o senador José Serra
(SP), de quem é amigo há pelo menos 30 anos.
No Congresso Nacional, Jobim é apontado hoje
como um dos três candidatos com mais chances de vencer uma possível eleição
indireta. Os outros dois são o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), e o presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE). Com
um "concorrente" tucano, o ex-ministro procurou caciques do PSDB para
ver o apoio que teria de parlamentares da sigla, caso se candidatasse a
presidente.
Segundo interlocutores de Serra, Jobim não se
coloca ainda claramente como candidato, mas não descarta apresentar uma
candidatura. Desde a conversa entre o senador e o ex-ministro, aliados do
parlamentar abordam tucanos e deputados de outros partidos para sondá-los se
votariam em Jobim. O grupo do senador é, no PSDB, aquele no qual Jobim mais tem
apoio. Amigos há anos, Serra e o ex-ministro chegaram a dividir o mesmo
apartamento em Brasília, quando eram deputados federais, entre 1987 e 1994.
Unânime. Aliados dos três principais caciques do PSDB - Serra, o
senador afastado Aécio Neves (MG) e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin,
- avaliam que, se Tasso decidir ser candidato, o partido estará unido para
apoiar o senador cearense. Nesse cenário, Jobim, Maia ou qualquer outro
candidato não teriam grande apoio na legenda. "O Tasso é unânime no
partido", disse um parlamentar tucano ligado a Aécio e que integra a
executiva nacional do PSDB.
Interlocutores de Alckmin no Congresso dizem
ainda ver com desconfiança uma possível candidatura de Jobim. Em caso de
eleição indireta, tucanos afirmam que o candidato de consenso terá de se
comprometer a não disputar reeleição em outubro de 2018, quando o governador
paulista se articula para ser o candidato do PSDB à Presidência da República.
"Alckmistas" dizem não confiar que o ex-ministro da Defesa cumpriria
uma promessa nesse sentido.
Aliados de Alckmin também avaliam que a
proximidade de Jobim com o PT e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de
quem foi ministro da Defesa, pode dificultar o apoio de alguns tucanos. O
argumento é de que seria difícil explicar para seus eleitores que, como
parlamentares, elegeram alguém ligado ao petista. Por outro lado, admitem que
essa boa relação com o PT, maior partido da oposição, pode ajudá-lo a conseguir
votos na esquerda.
Tucanos reconhecem ainda que, entre os três
candidatos, Jobim é o que tem melhor interlocução com o Poder Judiciário. Além
de ter sido ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) de 1997 a 2006, indicado
por FHC, ele teve influência na escolha de muitos ministros de Cortes
superiores durante os governos Lula e Dilma, de quem foi ministro da Defesa
entre 2007 e 2011. "Não dá para entrar alguém sem o aval do Supremo",
disse um parlamentar tucano.